Estaremos
disponibilizando neste blog a primeira parte da Dissertação
"Fundamentos Históricos e Filosóficos de uma Educação
Bíblico-Reformada", Parte 1: Educação Reformada: Uma Visão
Histórica", numa versão condensada para leitura e impressão. Trata-se de
um breve histórico da Educação Reformada, desde as suas raízes - que remetem à
vida e a obra de Cristo e da primeira igreja cristã apostólica - até uma visão
panorâmica da educação reformada em diversos países no mundo atual. A segunda
parte desta monografia, sobre os "Fundamentos Filosóficos da Educação Reformada"
pode ser encontrada neste blog, na seção de "Filosofia da Educação". Os capítulos sobre os Fundamentos Históricos
da Educação Bíblico Reformada estarão listados dentro da seção de História da
Educação, possivelmente divididos em partes menores:
CAPÍTULO
1: A PRIMEIRA EDUCAÇÃO CRISTÃ
CAPÍTULO
2: A EDUCAÇÃO RELIGIOSA REFORMADA
CAPÍTULO
3: A EDUCAÇÃO REFORMADA NO SÉCULO XVII
CAPÍTULO
4: HERANÇA REFORMADA NA EDUCAÇÃO DOS PAÍSES PROTESTANTES
O
leitor que desejar usar ou citar parte deste trabalho pode fazê-lo, desde que
indique os dados bibliográficos da obra, abaixo:
ANGLADA, Karis Beatriz Gueiros
Fundamentos Históricos e
Filosóficos de uma Educação Bíblico-Reformada/ Karis Beatriz Gueiros Anglada.
Monografia (graduação) –
Universidade do Estado do Pará. Centro de Ciências Sociais e Educação. Belém,
2004.
Área de Concentração:
Educação
Orientador: Maria Betânia Barbosa
Albuquerque.
1. Educação 2. Filosofia 3. Religião
Cristã/Reformada
INTRODUÇÃO:
André Biéler, autor da obra clássica: O Pensamento Econômico e
Social de Calvino, escreveu em seu livro A Força Oculta dos Protestantes
que: “toda religião induz a uma política; toda política oculta uma crença”.
Parafraseando este autor, pode-se estabelecer a relação fundamental entre a
religião e a educação: “toda religião induz a uma educação e toda educação
oculta uma crença”. Se, de fato, toda educação induz e oculta uma religião,
este trabalho visa explicitar quais os pressupostos religiosos reformados que
fundamentam a educação reformada e a própria pesquisa da autora.
Dentre os principais pressupostos reformados estão a crença na
existência do Deus bíblico, que se revela aos homens na obra da criação, na sua
Palavra escrita e na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo; o entendimento de que o
homem é um ser criado à imagem de Deus, mas teve essa imagem profundamente
afetada com a queda, de modo que possui uma natureza essencialmente pecaminosa
e corrompida; e aceitação de que a Bíblia é a única regra autoritativa de fé e
prática.
Com base nesses argumentos e pressupostos, este trabalho tem a
função de demonstrar como a fé e a educação reformada sempre estiveram
atreladas e impulsionaram-se mutuamente, de maneira que os princípios
reformados fornecem um consistente fundamento e fim para a educação.
Isso será feito, na primeira parte do trabalho, com argumentos
históricos, mostrando como desde o surgimento do cristianismo, a educação
esteve associada ao crescimento da fé cristã, que ganhou redobrado ânimo com a
Reforma e teve um desenvolvimento notável nos países protestantes até a
atualidade. O apanhado histórico revela que a fé reformada sempre deu grande
valor, importância e impulso à educação, tanto como meio de promover a fé e o
reino de Deus, como para o bem geral do mundo por meio da formação de cidadãos
capacitados, sábios e firmados nos princípios bíblicos que influenciam a
própria moral da sociedade de modo geral.
A segunda parte dedica-se a explicitar como a fé reformada com seus
pressupostos teológicos fornece a base de uma completa Filosofia da Educação
Bíblico-Reformada, que abrange a visão de mundo e de homem bíblica, a
definição, a origem, os propósitos e as marcas da educação reformada, os
princípios de uma epistemologia distintamente reformada, e a sua relação com o
currículo de uma escola reformada e com outros temas mais práticos.
Assim, o objetivo final dessa pesquisa é a produção de um material
de fundamentação teórica da Educação Reformada a partir do resgate e
investigação dos seus princípios e implicações, dando ensejo a que outros
estudantes e pesquisadores protestantes prossigam na tarefa de desenvolver
aspectos mais práticos da questão.
EDUCAÇÃO REFORMADA: UMA VISÃO HISTÓRICA
CAPÍTULO 1
A Primeira Educação Cristã
O cristianismo é, antes de tudo, uma
religião. Entretanto, dele brotam implicações filosóficas, educacionais e
sociais de grande ressonância. Costuma-se mesmo afirmar que ‘com o aparecimento
do Cristianismo o rumo da história ocidental muda.’
Rosa Maria da Glória [1]
Batismo de uma Criança Encontrado nas Catacumbas de Roma |
Na busca dessa relação histórica entre o cristianismo e a educação,
esse primeiro capítulo se dedicará a focalizar as implicações educacionais e
sociais da religião cristã em seu primeiro momento, ou seja, do seu
aparecimento com o nascimento de Jesus Cristo até o período medieval. Dentro
deste período histórico, este capítulo abordará temas como o surgimento e a
orientação das primeiras escolas e prosseguirá fornecendo um resumo das
contribuições pedagógicas dos primeiros educadores cristãos, muitos dos quais
conhecidos como os pais da Igreja Cristã.
O surgimento da educação cristã se confunde com o surgimento do
cristianismo e com a vida e obra de Cristo na terra, e prossegue com a primeira
comunidade dos cristãos, com a obra dos apóstolos. O cristianismo como religião
universal tem início com a vinda de Cristo, o Messias Prometido dos judeus.
Isso aponta para a unidade e continuidade entre o cristianismo e a religião
judaica. Na verdade, para os cristãos, o Antigo e o Novo Testamento da Bíblia
são duas dispensações ou fases de uma mesma história da redenção que se
centraliza na pessoa de Jesus Cristo, o Messias. Enquanto o povo judeu na
antiga dispensação era considerado o povo escolhido de Deus, naquele momento
com um caráter nacional enquanto aguardava o Messias, os cristãos são o povo de
Deus na nova dispensação, de caráter universal, inaugurada pelo nascimento de
Jesus.
O que é relevante deixar
claro, ao se considerar a educação cristã nesse primeiro momento do
cristianismo, é que Jesus e seus primeiros seguidores eram judeus, e que neste
contexto, muitas das famílias judias enfatizavam a educação e consideravam
importante que seus filhos aprendessem um ofício, não só como um meio de
subsistência, mas também para que aprendessem a ler e a estudar os escritos
bíblicos. Essa prática estendia-se tanto a judeus como aos prosélitos do
judaísmo e incluía tanto meninos como meninas.
Ao tratar desse assunto didaticamente, alguns autores dividem a
educação cristã primitiva em alguns períodos. Têm-se, assim, o período
apostólico, que corresponde à atuação de Jesus de Nazaré, o mestre por
excelência, e dos primeiros apóstolos, aos quais foi dada a incumbência de
pregar a Boa Nova a toda criatura (A BÍBLIA..., Mateus 28:18-20)[2]. O período patrístico aponta para o trabalho exercido pelos
primeiros pais da igreja, quase todos educadores, numa fase que cobre os
primeiros séculos da Igreja. O período monástico é o período dos monges
ascetas que se refugiavam e dedicavam-se a Deus através de orações e exercícios
piedosos, primeiramente vivendo isolados e, a partir do século IV, formando uma
comunidade religiosa nos mosteiros, os quais se tornaram centros da cultura e
da educação medieval, pela preservação e reprodução da literatura clássica. E o
período escolástico refere-se ao movimento intelectual que cobre o
século XII até a renascença, caracterizado pela “escolástica” como método
particular de ensino.
Não se irá tratar de cada um destes períodos aqui detalhadamente,
mas o objetivo é tão somente caracterizar o ambiente que marcou a comunidade
cristã primitiva e que moldou a primeira educação cristã. No seu
desenvolvimento, destacam-se a vida, o pensamento e as obras dos pais da Igreja
Cristã que constituem seu legado para a Educação Cristã, especialmente no que
tange aos princípios gerais de educação que estabeleceram.
1.1 Jesus, O Mestre
Jesus Cristo é a pessoa mais importante e o centro da religião
cristã. Para os cristãos há somente um Deus, que subsiste em três pessoas, o
Pai, o Filho e o Espírito Santo, sendo que o Filho Se fez homem na pessoa de
Jesus Cristo, o Verbo eterno, para ser o único mediador entre Deus e os homens,
de maneira que “nEle habita corporalmente, toda a plenitude da divindade” (A
BÌBLIA..., Colossenses 2:9).
Em toda a Bíblia, e de um modo especial nos Evangelhos, Jesus é
apresentado como Mestre Divino, como Pastor das Ovelhas, como a Verdade e a
Luz, “que vinda ao mundo, ilumina a todo homem” (A BÍBLIA..., João 1:9), e seu
ministério neste mundo consistiu, em grande parte, no revelar e ensinar a
vontade de Deus ao seu povo. Há, portanto, para os cristãos, somente um Mestre
perfeito, o Mestre dos mestres. Seu exemplo é o exemplo perfeito. Ele é o
ideal, o padrão, o ponto central sobre o qual toda a atenção deve ser dirigida.
Por isso, também, os primeiros pais da Igreja, como Clemente de Alexandria, não
cansavam de estabelecer essa relação de Jesus como o Pedagogo.
Sua contribuição como Pedagogo se dá em muitas esferas. Primeiro,
pelo que Jesus é. Ele é apresentado na Bíblia como o caminho, a verdade, a
porta, a luz, a sabedoria personificada[3]. Em seguida, pelo que ele ensinou, através de sua palavra escrita e
das palavras que falou enquanto esteve na Terra, instruindo e orientando os
seus discípulos. Jesus é ainda tido como exemplo para os educadores. O Mestre
perfeito deixou um exemplo para ser seguido por todos quantos almejam a
perfeição, tanto no que se refere à sua vida, moral e atitudes, como também à
abordagem educativa e métodos de ensino que ele utilizou em seu ministério e na
instrução que deu a seus discípulos. Finalmente, pensadores reformados como
Zwínglio, Comênius, e a tradição reformada como um todo entende que a própria
obra de Jesus na cruz foi tão ampla e poderosa que Ele pode ser visto como o
Redentor da Pedagogia; A idéia é que sendo Cristo o agente da obra da criação,
da providência e da redenção, e sendo a educação um elemento dessa criação,
somente Cristo pode redimir e criar a verdadeira Pedagogia baseada nos
princípios fundamentais da doutrina bíblica, que levam em conta a seqüência dos
estados do homem: criação-queda-redenção.
1.2 A Comunidade Cristã Primitiva
A comunidade dos primeiros cristãos, juntamente com a família, era o
meio ou o ambiente educativo no período de formação e surgimento da religião e
da educação cristã, em que pelo ministério e pregação de Jesus e dos apóstolos,
os primeiros cristãos judeus e gentios se convertiam ao Evangelho e se reuniam
nas primeiras igrejas. Estas, muitas vezes, funcionavam nas casas dos
convertidos, e mesmo em catacumbas e lugares escondidos, em virtude da
perseguição que os cristãos enfrentaram já no primeiro século da religião
cristã.
O cristianismo, do seu surgimento até o reinado de Constantino no
início dos anos 300, desenvolveu-se a tal ponto que passou a ser a religião
dominante na Ásia menor, como também na Trácua e Armênia, na Antioquia, na
Síria, nas costas da Grécia e Macedônia, nas Ilhas gregas, no Norte do Egito,
na província da África, na Itália, no sul da Gália e na Espanha, sendo mais
fraco em outras partes do Império Romano. O fato marcante é que o cristianismo
alcançou os povos das mais variadas línguas e culturas, mostrando-se mais
inclusivo que qualquer outra tradição cultural, no sentido de assimilar
diferentes raças, culturas, línguas, sexos, profissões e camadas sociais.
O cristianismo introduziu-se em todas as classes sociais. Eram
numerosos os cristãos na corte imperial, entre os elementos do governo, e entre
os soldados. Em sua gênese, os adeptos da religião cristã eram principalmente
os artesãos, pequenos negociantes, proprietários de pequenas terras, em sua
maioria pessoas humildes. Sabe-se também que o cristianismo primitivo promoveu
uma grande mudança social em certas regiões (CAIRNS, 1990, p. 47). Earle E.
Cairns, pesquisador da história da Igreja Cristã, confirma esta reorganização
social decorrente das doutrinas e práticas da Igreja primitiva:
A Igreja de Jerusalém insistiu sobre a
igualdade espiritual dos sexos e deu muita importância às mulheres na igreja. A
criação de um grupo de homens para tomar conta das necessidades foi outro
acontecimento de relevância social ocorrido ainda nos primeiros anos do
nascimento da Igreja. A caridade deveria ser administrada por um corpo
organizado, os precursores dos diáconos. (CAIRNS, 1990, p. 47).
Os primeiros cristãos enfrentaram perseguições tanto por parte dos
judeus, quanto da parte dos Imperadores Romanos, e o resultado destas
dificuldades contribuiu para moldar em grande parte o caráter moral da Igreja.
A vida cristã foi mantida assim num alto nível moral, devido ao fato de que os
que não eram verdadeiramente convertidos desistiam ante o terror e o sofrimento
que tinham de enfrentar por amor a Cristo. Durante o II e o III séculos, o
caráter espiritual, moral e de conduta social dos cristãos permaneceu como
desde o princípio, num nível bastante elevado, que os distinguia do resto do
mundo, especialmente pela sua moralidade superior. A fraternidade cristã, a
pureza, a honestidade, a bondade e o amor cristãos eram qualidades estranhas ao
mundo da época e se destacava em épocas de calamidade, em que os cristãos
proviam e cuidavam não somente dos da mesma fé, mas de todos os necessitados,
sem distinção (NICHOLS, 1981, p. 33).
A igreja primitiva insistia em que seus membros não deveriam tomar
parte nas práticas pagãs da sociedade romana, como a idolatria ou imoralidade
pagãs; era permitido o convívio com os pagãos em relações sociais que não
fossem prejudiciais, e que não comprometessem ou sacrificassem os princípios
cristãos: “O cristão devia seguir os princípios de não fazer nada que prejudicasse
o corpo do qual Cristo era Senhor, nada que prejudicasse os outros ou
enfraquecesse os cristãos, evitar tudo que não glorificasse a Deus” (CAIRNS,
1990, p. 69).
Apesar dessa atitude de separação moral e espiritual com relação às
práticas e relações do mundo não-cristão, os cristãos poderiam ser considerados
cidadãos exemplares, desde que não fossem instados a violar os preceitos de
Deus, a maior autoridade a quem deviam obediência absoluta; obedeciam,
respeitavam e oravam pelas autoridades devidamente constituídas, pagavam os
impostos devidos, de modo que sua influência no mundo se fez claramente sentir,
fato comprovado através do reconhecimento oficial do Imperador Constantino da
importância do Cristianismo para o Estado.
A educação cristã no primeiro século era uma educação sem escolas,
como aconteceu com grande parte das religiões em religiões em seus primeiros
tempos (LUZURIAGA, 1987, p. 71). As famílias eram o núcleo imediato da vida e
da educação e, aos poucos, além da formação para o trabalho e para a leitura e
estudo das escrituras, foi surgindo uma forma própria de ensino, de caráter
mais religioso que pedagógico, visando a preparação para a vida eterna, e mais
concretamente, para que os alunos tivessem os conhecimentos bíblicos
considerados pré-requisitos para o batismo.
Nesse contexto de inculcar nas crianças e convertidos as principais
doutrinas bíblicas necessárias à salvação e ao ingresso formal na Igreja
através do batismo, surgiu a chamada instrução catequista, dada por oficiais
eclesiásticos que instruíam os catecúmenos. Tal preparação, de início muito
elementar, foi-se desenvolvendo aos poucos, até darem origem a escolas
propriamente ditas.
Essa instrução doutrinária oferecida pela Igreja é confirmada por
Nichols (1981, p. 35), outro pesquisador da história da Igreja Cristã: “Para
que os catecúmenos ou candidatos ao batismo fossem devidamente instruídos, como
também para defender o cristianismo dos erros dos gnósticos, foram
estabelecidas certas declarações breves sobre o que constituía objeto de fé
para os cristãos”. Esses estudos, segundo a citação, geraram os primeiros
credos e catecismos da Igreja, que passaram a constituir o conteúdo da
instrução, aos quais se juntaram mais tarde, o canto e a música. Nos períodos
em que os cristãos enfrentavam maior perseguição religiosa, esse ensino era
dado clandestinamente, nos lugares dedicados ao culto e aos sepultamentos.
1.3 As Primeiras Escolas
A instrução catequista, de cunho elementar e informal oferecida
pelos oficiais eclesiásticos, com o avanço do cristianismo, teve a necessidade
de se organizar melhor e de contar com mestres especialmente preparados para a
educação. Surgiram, então, as escolas de catequistas, em seguida as escolas
episcopais, a escola paroquial ou presbiterial e finalmente a educação
dos mosteiros.
A primeira escola de catequista que surgiu foi a de Alexandria,
criada por volta de 179 por Pantaenus, filósofo grego convertido à fé cristã.
Era uma escola que objetivava instruir os convertidos do paganismo ao
Cristianismo, e que se tornou grande centro de cultura religiosa e estudo
superior da época e foco de atração da elite greco-romana. Ali era dado um
ensino religioso, de um ponto de vista enciclopédico e teológico. Ao fundador
sucederam dois dos mais destacados Pais da Igreja: Clemente e Orígenes.
Por volta do século IV surgiu um outro tipo de escola, a escola
episcopal, que visava a formação de oficiais eclesiásticos. Nela se dava
instrução superior (ensino de teologia e serviço eclesiástico) aos aspirantes
da Igreja, como diáconos e presbíteros. A escola episcopal mais conhecida foi
criada por Santo Agostinho em Hipona, em 391.
Depois da invasão de Roma pelos bárbaros em 410, aparece um tipo de
escola elementar, que alcançou um número maior de alunos. Era a escola das igrejas
rurais, chamada de paroquial ou presbiterial. Uma importante recomendação
pronunciada no Concílio de Vaison, de 529, e repetida noutros Concílios,
fornece uma visão do propósito e conteúdo da educação nesta escola: ordenava-se
“a todos os sacerdotes encarregados de paróquia receber jovens na qualidade de
leitores com o fim de educa-los cristãmente, de ensinar-lhes os salmos e as
lições da Escritura e toda a lei do Senhor, de modo que possam preparar entre
eles dignos sucessores” (LUZURIAGA, 1987, p. 72).
O propósito da maioria desses tipos de escolas citados era,
evidentemente, religioso, e visava a formação de eclesiásticos. Existiam ainda,
na época, as escolas romanas ordinárias, que, por estarem já estabelecidas há
mais tempo, acabavam por alcançar a maior parte da população que recebia alguma
educação. Entretanto, estas desapareceram com as invasões dos bárbaros, e o
ensino ficou reduzido a educação oferecida nos mosteiros, principais
mantenedores da educação e da cultura durante a Idade Média.
A educação monástica surgiu no Oriente, entre os monges que se
retiraram para o deserto e organizaram os primeiros mosteiros, onde os noviços
recebiam instrução mais ascética e moral do que intelectual. Esta última,
entretanto, era necessária para que o aluno pudesse ler as Sagradas Escrituras,
aprender os salmos e epístolas, e entregar-se à leitura e cópia de manuscritos.
Basílio e João Crisóstomo ordenaram que fossem admitidos desde a primeira
infância os meninos levados pelos pais ou os órfãos, para ensina-los a ler e
conhecer a Bíblia (LUZURIAGA, 1987, p.73).
Dentre as diversas regras de conduta para os monges, a Regra da
Ordem de São Bento (criada por volta do ano de 525) foi a que mais se destacou
e veio fornecer o modelo para esse tipo de educação em toda a Europa. Ela
estabelecia a leitura dos textos sagrados durante a refeição dos monges, a
admissão de meninos para educar, a necessidade de os monges terem um ofício,
por ser a ociosidade considerada como inimigo da alma e ainda dispunha sobre
horas de leitura fora das refeições, em livros da biblioteca, haja vista que
todo convento deveria ter uma biblioteca, instituindo-se um inspetor que
velasse para que as leituras fossem feitas. Em decorrência dessa regra rígida
de educação monástica, a ordem dos beneditinos acabou por se converter em
importante centro de cultura e educação.
Cabe acrescentar que a instrução monástica que dominou a idade média
foi marcada pelo escolasticismo, que teve como representante principal Tomás de
Aquino. Entendido como um completo sistema de pensamento, filosófico,
epistemológico, teológico, etc., o escolasticismo medieval buscava uma síntese
entre a religião cristã e o pensamento não-cristão, sobretudo dos gregos.
O perigo da síntese tomasiana para o cristianismo original foi representado
pelo risco de uma acomodação indevida das doutrinas cristãs aos conceitos
aristotélicos, com o que Deus deixou de ser o Deus Pessoal da Bíblia e passou a
ser visto a partir dos conceitos filosóficos da Forma Pura e da Causa não
causada, e a ênfase filosófica gerou uma tendência racionalista e uma
intelectualização da fé cristã. A crença de Tomás de Aquino na distinção entre
reino da graça e reino da natureza também acabou por diminuir a autoridade da
Palavra de Deus sobre os assuntos mais práticos da vida humana.
A escolástica medieval é um exemplo de como o cristianismo ortodoxo
pregado por Jesus e pelos primeiros apóstolos, ou seja, fiel às doutrinas e à
simplicidade bíblicas, foi sendo descaracterizado pela introdução de heresias e
da filosofia grega humanista. A adoção do cristianismo como religião oficial do
Estado Romano a partir do Imperador Constantino também contribuiu para a
decadência doutrinária e moral da religião cristã. As igrejas encheram-se de
membros professos e muitas tradições e costumes humanos foram introduzidos na
liturgia, na forma de governo, e na doutrina da Igreja Cristã.
Em seu posicionamento contra a síntese escolástica, os reformadores
insistiram em que somente a Escritura deveria dirigir a vida humana e guiar o
homem em sua busca pelo conhecimento, sob o lema: “Sola Scriptura”. Tal
rompimento com a síntese escolástica ocorreu de fato no âmbito doutrinário e
eclesiástico, e seria de fundamental importância que tivesse um desenvolvimento
sólido como perspectiva norteadora de outras áreas da vida humana, dentre as
quais a educação.
1.4 Os Primeiros Educadores Cristãos
1.4.1 Clemente de Alexandria (155-225)
Clemente de Alexandria nasceu em Atenas. Filho de
pais pagãos, foi educado na filosofia grega, viajando muito e estudando com
muitos mestres antes de começar a estudar com Pantaenus, por cuja influência se
converteu ao cristianismo. Pantaenus foi o primeiro diretor da Escola de
Alexandria. Antes de 190, Clemente passou a dirigir a escola junto com
Pantaenus, e dirigiu-a sozinho de 190
a 202.
Clemente tinha como objetivo para si o ideal de um filósofo cristão,
e em suas obras buscou aproximar a filosofia grega do cristianismo evidenciando
que o cristianismo era a filosofia superior e definitiva. Grande leitor da
literatura pagã grega, chegou a citar cerca de 500 autores em suas obras. Por
reconhecer a razão como base fundamental do conhecimento, embora aliada à fé, é
por vezes apresentado como representante da tradição racionalista.
CAIRNS, em seu livro sobre a História da Igreja cristã,
contrabalança essa idéia, afirmando que:
Sem dúvida alguma, Clemente tinha em alto
apreço a sabedoria grega, mas uma leitura cuidadosa de suas obras deixará a
impressão de que para ele a Bíblia está em primeiro lugar na vida do cristão.
Ao mesmo tempo, já que toda verdade pertence a Deus, tudo o que houvesse de
verdadeiro na sabedoria grega deveria ser empregado no serviço de Deus. O
perigo desta posição está em que se pode imperceptivelmente sintetizar
cristianismo e filosofia grega, passando-se a considerar o cristianismo como um
simples sincretismo de filosofia grega e teologia bíblica. (CAIRNS, 1990, p.
91).
Clemente é autor da célebre trilogia: o Protréptico, o Pedagogo
e o Stromata. Seu Protréptico ou Exortação aos Gentios é
um documento missionário de cunho apologético escrito por volta do ano 190 para
provar a superioridade do cristianismo como a verdadeira filosofia e assim
levar os pagãos a aceitá-lo. As Stromata ou Seleções evidenciam o
amplo conhecimento de Clemente da Literatura pagã de seu tempo. No Livro I, o
Cristianismo é apresentado como o verdadeiro conhecimento. Clemente cria que a
filosofia grega tomara o que havia de verdade nela do Velho Testamento e que
era uma preparação para o Evangelho. No Livro II, mostra que a moralidade
cristã é superior à pagã. O livro III é uma exposição sobre o casamento
cristão. Nos livros VII e VIII, ele descreve o modo de viver dos cristãos.
Com relação à educação, sua obra mais importante é a segunda de sua
trilogia, o Paedagogus ou Tutor, considerada o primeiro tratado
cristão de educação. Trata-se de um tratado moral de instrução para os jovens
cristãos, onde Cristo é apresentado como o verdadeiro mestre que deixou as
regras para a vida cristã. O mestre é o Logos; quando encaminha os homens
para a verdade, chama-se Logos Pedagogo; quando ensina a verdade, Logos
Didascalo. Compõe-se de três livros. No livro I, o autor desenvolve as
conseqüências espirituais da noção da “pedagogia” do Verbo, da formação que
Deus dá aos fiéis por meio de Cristo. Os Livros II e III constituem um tratado
de moral prática, examinando os deveres dos cristãos e dando-lhes conselhos
sobre a maneira de viver, comer, beber, dormir, etc. (LUZURIAGA,1987; DE ROSA, 1993).
Vale ressaltar algumas considerações sobre sua exposição
demonstrando que Jesus é o verdadeiro Pedagogo dos cristãos. Clemente relata
que ao se dar o nome de “pastor” e dizer: “Eu sou o bom pastor”, Jesus Se
compara aos pastores que guiam suas ovelhas. Deus, portanto, conduz a
humanidade inteira e ama os homens, sendo que esta posição é apresentada desde
o Antigo Testamento: “Só o Senhor foi o seu guia, e nenhum outro deus estava
com ele” (A BÍBLIA..., Deuteronômio 32:10-12); “Eu sou o Senhor teu Deus, que
te fiz sair do Egito” (A BÍBLIA..., Êxodo 20:2); “Eu sou contigo, para te
guardar onde quer que fores, e te reconduzirei a esta terra, e não te
abandonarei, sem ter cumprido o que prometi” (A BÍBLIA..., Gênesis 18:15).
A própria Lei – prossegue Clemente - dada por Deus ao povo de
Israel, é considerada como aio, ou pedagogo, para conduzir a Cristo. O
Pedagogo, Cristo, é aquele que ensina o seu povo, que tem autoridade, exerce a
disciplina e o juízo. Suas características marcantes são a Sabedoria, o Poder,
a Solicitude. Ele faz-se respeitar, chama e leva ao caminho da salvação. Como
um Pai, a bondade e a severidade de Cristo se revelam aos crentes na medida
certa, de modo que dá mandamentos imprimindo-lhes uma tal característica que
permite aos fiéis executá-los, com a ajuda do Santo Espírito.
Clemente, em sua obra, ainda fornece uma indicação do propósito da
educação e da Obra de Cristo como Pedagogo: que os crentes adquiram a
semelhança com Deus, por meio da mortificação da carne em seus desejos
pecaminosos e do cultivo das virtudes cristãs, e por meio destas alcancem o
propósito para o qual foram criados: a imagem e semelhança de Deus. Quanto à
pedagogia, é a religião: ela é ao mesmo tempo o ensinamento do serviço de Deus,
educação em vista do conhecimento da verdade e boa formação que conduz ao céu.
1.4.2 Orígenes (185-254)
Discípulo e sucessor de Clemente na Escola de Alexandria, era tão
competente que foi escolhido para suceder Clemente em 203, aos 18 anos de
idade, e ocupou este cargo até 231. Seu amigo Ambrósio, homem rico que ele
convertera do gnosticismo, se responsabilizou pela publicação de suas muitas
obras. É possível que Orígenes tenha sido autor de seis mil pergaminhos.
Orígenes escreveu obras filosóficas importantes, entre elas a obra intitulada De
Principiis, considerado o primeiro grande tratado cristão de teologia
sistemática. Assim, especialmente em questões teológicas e hermenêuticas,
Orígenes pode ser comparado com Agostinho, no significado de sua obra.
Orígenes foi um homem de grande cultura. Recomenda o estudo das
ciências, especialmente das matemáticas e considera a filosofia como coroamento
do saber e preâmbulo para doutrina religiosa, pois para ele, a virtude pode ser
ensinada e aprendida. Contudo, nada se compara com a importância decisiva que
tem os Evangelhos e a tradição apostólica. Sua importância como educador está
na escola que dirigiu em Alexandria e na que, mais tarde, fundou em Cesaréia, e
alcançou grande fama. (LUZURIAGA, 1987, p. 74).
1.4.3 Basílio (329-379)
Representante da pedagogia monástica, a quem se deve a fundação dos
mosteiros do mundo católico oriental, homem de grande cultura e cujas Regras
revelam grande valor pedagógico. Acentua o senso social, de comunidade, e
insiste no valor da caridade e do auxílio mútuo. Como meios de educação
recomenda o trabalho e a leitura dos Evangelhos; as letras serão aprendidas por
meio deles, especialmente do livro de Provérbios.
1.4.4 Jerônimo (340-420)
Natural de Veneza, Jerônimo converteu-se ao cristianismo aos 25 anos
de idade, quando era estudante em Roma, sendo batizado em 360. Dedicou-se ao
estudo das Escrituras e à prática monástica, indo passar vários anos, feito
monge, num deserto perto de Antioquia, onde enfrentou muitas dificuldades,
embora sem abandonar seus estudos em Roma. Seu grande amor ao Cristianismo, poder
intelectual e extraordinário raciocínio, exerceu grande influência na
aristocracia romana, particularmente entre algumas mulheres da nobreza. Passou
os últimos 35 anos de sua vida em um mosteiro em Belém, estudando e escrevendo,
até sua morte em 420.
A principal de suas obras foi a tradução que fez da Bíblia do
original em Hebraico para o latim, a Vulgata, a Bíblia da Idade Média, e
revisou cuidadosamente a versão latina do Novo Testamento existente. Jerônimo
escreveu ainda comentários, tratados de teologia, livros em defesa da vida
monástica e inúmeras cartas.
Além da ação monástica, Jerônimo se distinguiu na educação pelas
duas cartas que escreveu sobre a educação das meninas, que revelam o tipo de
educação feminina pregada pelo cristianismo primitivo. Recomendando a educação
doméstica, materna, adverte:
(...) a maior mestra de vossa filha
sereis vós, e vivereis de tal sorte que à tenra menina admirem vossos santos
costumes, e não veja em vós, nem em seu pai, coisa que possa ser pecado.
Lembrai-vos, pois, de que sois mãe de uma donzela, que melhor poderá ser
ensinada com exemplos que com palavras e gritos. (SÃO JERÔNIMO apud. LUZURIAGA,
1987, p. 75).
Jerônimo recomenda a educação ascética e a instrução baseada em
orações, leitura de livros religiosos e trabalhos manuais e domésticos.
1.4.5 Agostinho (354-430)
Agostinho foi sem dúvida o maior dentre os pais da Igreja e um dos
pensadores mais importantes de todos os tempos, cuja contribuição ao
Cristianismo é reconhecida tanto pelo Protestantismo como pelo Catolicismo
Romano. Nasceu em Tagaste, na Numídia, Norte da África romanizada, de pai pagão
e mãe cristã. Sua mãe, Mônica, mulher piedosa e cristã fervorosa, dedicou sua
vida à sua formação e conversão à fé cristã. Ele, porém, não lhe seguiu o exemplo
na mocidade, mas, ao ser enviado para estudar retórica em Cartago, passou a
viver uma vida de devassidão, da qual resultou seu filho natural, Adeodato. De
início, embora meditasse bastante sobre assuntos religiosos, vivia de modo
praticamente irreligioso, mas na busca pela verdade, aderiu à heresia
maniqueísta e aos ensinos do neo-platonismo[4]. Ensinou retórica em sua cidade natal e em Cartago até ir para
Milão em 384.
Nesta cidade, abalado profundamente pela pregação de Ambrosio, o
nobre bispo, aconteceu a crise que levou à sua conversão, em 386. Começou a
estudar o Cristianismo, e numa certa ocasião em que, num jardim, meditava sobre
sua condição espiritual, ouviu uma voz de um jovem vizinho que dizia: “toma e
lê”. Agostinho abriu sua Bíblia em Romanos 13:13-14 e a leitura trouxe-lhe a
luz que não encontrara nem no maniqueísmo, nem no neoplatonismo. Foi recebido à
Igreja em 387 e, de volta a Cartago, foi ordenado sacerdote em 391. Cinco anos
depois foi consagrado Bispo de Hipona. Fundou aí uma comunidade religiosa, logo
convertida em grande centro da cultura eclesiástica e donde saíram destacados
sacerdotes e bispos. Até a sua morte em 430, empenhou-se na administração
episcopal, estudando e escrevendo. Deixou mais de 100 livros, 500 sermões e 200
cartas (CAIRNS, 1990, p. 118).
Dentre suas numerosas obras, destacam-se: Confessiones,
provavelmente sua obra mais conhecida e uma das maiores autobiografias de todos
os tempos, em que descreve a sua vida pregressa, a sua conversão e os
acontecimentos subseqüentes. O livro traz no primeiro parágrafo a conhecida
frase: “Tu nos fizeste para Ti e nosso coração não descansará enquanto não
repousar em Ti”. Nas Retractationes, outra obra autobiográfica produzida
antes de sua morte, Agostinho faz um balanço de suas idéias e lamenta em
particular sua aproximação com a filosofia pagã, a qual jamais pode levar o
homem à verdade como faz o cristianismo. De Doctrina Christiana é a obra
exegética mais importante que escreveu, onde desenvolve o princípio da analogia
da fé (CAIRNS, 1990, p. 19). Outras obras e tratados teológicos foram: De
Trinitate, De libero arbítrio, Soliloquia, Da Ordem, De civitate Dei, Contra
Acadêmicos e De Magistro.
As quatro últimas obras são as mais importantes do ponto de vista
pedagógico. No tratado Da Ordem, ele explica sua concepção de educação
integral humanística. De civitate Dei, ou A Cidade de Deus, de caráter
apologético, foi considerada por Agostinho sua grande obra. Nela, o autor
propôs uma filosofia da história, real e abrangente, que contrapunha a Cidade
de Deus e a Cidade da Terra. Na primeira, o povo de Deus, unido pelo amor e
pelo desejo de Sua Glória, viveria em felicidade eterna após o julgamento
final. A Cidade da Terra era composta pelos seres que, amando a si mesmos,
procuram sua própria glória e benefício, e por isso seriam condenados ao
castigo eterno (CAIRNS, 1990, p. 120). Segundo Cairns (1990, p. 120), a
formulação de uma interpretação cristã da história deve ser tida como uma das
contribuições permanentes deixadas por este grande erudito cristão. Agostinho
exalta o poder espiritual sobre o temporal ao afirmar a Soberania do Deus que
se tornou o Criador da história no tempo. “Deus é o Senhor da história e nada o
limita, como ensinaria o filósofo Hegel (1770-1831) [...] O fim ou objetivo da
história, para Agostinho, está fora da história, nas mãos de um Deus eterno”.
Uma de suas obras escritas em forma de diálogo foi Contra
Acadêmicos, onde se procura demonstrar que o homem jamais pode alcançar a
verdade completa através do estudo filosófico e que a certeza somente vêm pela
revelação bíblica. Outra obra pedagógica importante foi De Magistro, ou Do
Mestre. Na obra, escrita em Cartago, Agostinho quer educar seu filho
Adeodato, com 16 anos de idade, dentro de sólidos princípios religiosos, sem
contudo negligenciar a instrução profana. Segundo De Rosa (1993, p. 101), “a
obra é bastante simpática aos estudiosos da Educação, porque mostra os desvelos
de um pai que procura dirigir o espírito do Filho, tendo como escopo final a
salvação da alma”.
·
Consideração da família como a
mais imediata comunidade pessoal e educativa, sendo o núcleo responsável pela
educação, através da vida, exemplo e ensino dos pais;
·
Ensino fundamentado nas
Escrituras Sagradas, sendo a Bíblia considerada como o conteúdo da instrução,
outras vezes como o material didático (para o ensino da leitura) e como o
próprio propósito da educação (que era preparar as pessoas para que pudessem lê-la
e estudá-la). A presença da Bíblia no ensino cristão primitivo era percebido
também de forma indireta, quando dela se extraíam princípios morais, regras, e
valores norteadores da educação cristã.
·
Reconhecimento do valor do
indivíduo como obra de Deus.
·
Tendência à universalização do
ensino cristão, assim como aconteceu com a religião cristã, através da
superação dos limites de nação e Estado e da criação da consciência universal
humana;
·
Fundamentação das relações
humanas nas virtudes cristãs, como o amor e a caridade.
·
Igualdade essencial de todos os
homens, seja qual for a posição econômica, classe social ou gênero.
·
Valorização da vida e propósito
espirituais sobre os puramente intelectuais;
·
A vida terrena presente passa a
ser vista à luz da eternidade, e portanto, a educação está intrinsecamente
voltada para o que pode ser útil nesse mundo tendo em vista a vida futura (essa
visão orientou o avanço do Cristianismo no mundo).
[1] Cf. DE ROSA, Maria da Glória de. A História da Educação Através
dos Textos. 19.ed. São Paulo: Cultrix, 1993, p. 87.
[2] Os textos bíblicos que serão citados nesse trabalho são tirados da
versão revista e atualizada da tradução de João Ferreira de Almeida, 2.ed. São
Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil
[3] Cf. textos bíblicos: João 14:6; João 10:7,9; João 8:12; 9:5;
Provérbios. 1:20; 7:4; I Coríntios
1:24,30.
[4] O maniqueísmo e o neo-platonismo podem ser consideradas duas
heresias do início da Igreja cristã. O maniqueísmo foi uma religião sincretista
fundada por Mani na metade do século III. Adotava um sistema dualista (luz
contra trevas) com elementos cristãos, gnósticos e orientais. Havia muito
ascetismo entre eles e aos adeptos “perfeitos” era proibido o casamento.
Agostinho foi seguidor desta seita por doze anos, combatendo-a depois
energicamente. O neoplatonismo era uma corrente filosófica fruto do helenismo,
que veio a se tornar uma religião, com árduos adeptos em Roma mesmo depois que
o Cristianismo foi tornado oficial, e também entre os cristãos. O nome aponta
para Platão, com a defesa da existência da “idéia” antes da forma, do espírito
antes da matéria.
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