"Eu quero
basear o que eu tenho para dizer em três fatos que penso serem indiscutíveis:
O primeiro
é que a Bíblia pertence à literatura; isto é, ela é uma obra de arte. Que
diferença faz se o Livro que nós vemos como Santo vem a nós em forma literária,
ao invés de vir na forma de doutrinas abstratas ou de teologia sistemática?
Será que a poesia na Bíblia é um fato meramente coberto por uma decoração
artística? Se nós sumarizarmos o Salmo vinte e três como declarando que Deus
cuida dos seus filhos como um bom pastor cuida das suas ovelhas, será que a
poesia e este sumário em prosa equivalem à mesma coisa? Se assim é, porque a
poesia em primeiro lugar? Que mudança ocorre quando uma obra de poesia é
transformada em obra doutrinária ou de exortação prática?
Como a
divina inspiração da Bíblia se relaciona com o estranho fato de que o maior dos
Salmos foi escrito na forma de um acróstico? Será que a forma de acróstico veio
de Deus ou apenas do poeta?... Será que Deus inspirou a forma ou apenas o
conteúdo da Bíblia? Será que a sua forma é meramente um incidente humano?
Deveriam os professores Cristãos encorajar seus alunos a lerem a Bíblia como
literatura?
Porque a figura
da comparação ao dizer-se que um homem piedoso é como uma árvore plantada à beira
dos mananciais, e a hipérbole ao dizer-se que as marés e as árvores do campo
batem palmas e cantam? Deveriam tais expressões ser consideradas como meros
adornos, ornamentos, como penas – e, muitas vezes, belíssimas penas – que devem
ser removidas do peru antes que o seu significado calórico e real possa vir à
existência?
Porque a
Bíblia não é direta, expositiva e concreta? Porque estes numerosos e difíceis
paradoxos se atiram diante do leitor...? Porque o frequente jogo de palavras,
até mesmo na própria linguagem do nosso Senhor? Tudo isto sugere o caráter
literário da Bíblia.
O segundo
fato indisputável é que, desde que um – e talvez o maior – dos ingredientes da
literatura é a imaginação, nós precisamos dizer que a Bíblia é um livro
imaginativo. Não há literatura sem imaginação – forte, honesta, e muitas vezes
ousada imaginação.
O terceiro fato indisputável é que o maior de
todos os artistas, o maior Imaginador de todos, é Aquele que aparece na
abertura do livro de Gênesis. Estética tem a ver com forma, design, harmonia,
beleza. Talvez a palavra-chave seja “forma”. Agora a Terra, diz Gênesis, estava
sem forma. Deus moldou e deu forma à criação – a luz e as trevas, os céus, as
abundantes águas, a variada fauna e flora... E nos é dito que Ele olhou para
cada coisa que Ele havia moldado e viu que era bom. E quanto ao todo, Ele viu
que era “muito bom”. Mesmo após a queda do homem, a Bíblia ainda trata a
natureza como bela, visto que tem a Deus como o seu criador e mantenedor...
Deus não julgou, como muitos de nós, que a estética seja meramente uma
futilidade para tempos ociosos. " --- "Christian Imagination"
Christian Herald, 1969.
Para professores cristãos de português, fica a excelente dica de usar os exemplos bíblicos nas aulas de figura de linguagem, literatura, etc.
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