Todos em Eichbourg estavam ansiosos para saber qual seria a sentença desse caso desventuroso. Todas as pessoas amigáveis temiam pela vida de Mary, pois, naqueles dias, o crime de furto era punido com excessiva severidade e a pena de morte era muitas vezes infligida pelo roubo de artigos muito menos valiosos do que aquele anel. O Conde sinceramente desejava que a inocência de Mary fosse provada. Ele mesmo leu todo o testemunho e conversou por horas com o juiz, sem ser capaz de convencer a si mesmo da inocência de Mary. Tanto a condessa , quanto a sua filha, Amelia, imploraram, com lágrimas, que Mary não fosse morta; enquanto o seu pai idoso gastava dias e noites em oração incessante, para que a graça do Senhor fosse suficiente para ela e que a sua força fosse aperfeiçoada na fraqueza. Toda vez que Mary ouvia o carcereiro entrar em sua cela, ela pensava que ele iria anunciar a ela a hora de sua morte. E nesse meio tempo, o executor estava engajado na preparação do terrível dia.
Certo dia, quando Juliette estava caminhando, ela viu o executor ocupado com esses preparativos e o seu coração se encheu de pesar. O terror parecia privá-la dos seus demais pensamentos, e quando ela se assentou para o jantar, ela nem tocou em sua comida e todos perceberam que ela estava sofrendo alguma agonia oculta em sua mente. Ela teve uma noite terrível e, mais de uma vez, em seus sonhos, ela viu a cabeça da Mary cortada. O seu remorso não lhe deu descanso, nem de dia, nem de noite, mas o coração dessa criatura miserável estava endurecido demais para confessar as suas mentiras, a fim de salvar Mary.
Por fim, o juiz pronunciou a sentença. Mesmo tendo a Mary sido culpada de pena de morte, a sua pena foi mudada para exílio perpétuo, ao levarem em conta a sua idade e a sua reputação prévia imaculada. Essa sentença também foi estendida a James, e tudo o que eles possuíam foi confiscado, uma vez que acreditava-se que ele era cúmplice do crime, ou que o seu mau exemplo ou negligência tinham contribuído para levá-la a se desviar. A sua punição poderia ter sido mais severa, não fosse a súplica sincera do Conde e de sua família. James e Mary foram conduzidos para fora das fronteiras da cidade por um guarda e a jornada deles começou naquele mesmo dia.
De manhã cedo, no dia seguinte, conforme Mary e seu pai passavam na frente do portão do castelo, em seu caminho para a prisão perpétua, Juliette saiu do castelo. Vendo que o caso, ao contrário de todas as expectativas, havia tomado um rumo diferente do que ela tinha previsto, esta moça astuta e sem nenhum bom sentimento, recobrou a sua disposição. Ainda que ela não desejasse que Mary fosse levada à morte, ela tinha objeções quanto ao seu exílio. Assim que ela descobriu que a vida de Mary havia sido poupada, o seu ciúme voltou com toda a força. Ela ainda a odiava e tinha grande inveja dela, por causa do amor que a Condessa havia lhe mostrado. Alguns dias antes, Amélia viu a cesta que Mary tinha dado a ela em uma estante e disse para Juliette:
ー Leve essa cesta daqui, para que eu nunca mais a veja, pois ela me traz lembranças tão dolorosas que eu não suporto olhar para ela. Juliette pegou a cesta e a guardou em seu próprio quarto, e agora a trouxera novamente, neste momento tão difícil para Mary e seu pai.
ー Pare! Aqui está o seu presente! – Chamou Juliette – Você pode pegá-lo de volta; a minha senhora não deseja nada vindo de pessoas como você. A sua glória passou com as flores pelas quais você foi tão bem paga, e é um grande prazer para mim devolver esta cesta.
Ela a lançou aos pés de Mary e, com um sorriso desdenhoso, entrou no castelo. Mary pegou a cesta em silêncio, com lágrimas em seus olhos, e continuou em seu caminho.
O seu pai não tinha sequer um bengala para lhe ajudar em seus passos instáveis. Mary não tinha nada além de sua cesta; seus olhos encharcavam-se com lágrimas ao passar por cada lugar tão familiar a ela, fitando-os afetuosamente, enquanto as memórias de tantos dias felizes começavam a desaparecer. No momento em que ela se virou, pela última vez, ela acenou adeus, primeiro para o chalé, depois para o castelo, e por último, para a torre da igreja, que desapareceu da sua vista, por trás de uma colina coberta de árvores.
Quando o guarda os conduziu até os limites da cidade, praticamente já dentro da floresta, o velho homem, completamente exausto, sentou-se sobre o musgo, debaixo da sombra de um velho carvalho.
– Venha, minha filha – ele disse, tomando Mary em seus braços, juntando as suas mãos com as dela, e levantando-as aos céus. – Antes de irmos, vamos agradecer a Deus, que nos tirou de uma prisão pequena e escura, e nos permitiu aproveitar livremente a luz do céu e o frescor do vento ー ao Deus que salvou as nossas vidas e que devolveu você, minha querida filha, para o abraço deste seu pai.
O homem idoso caiu de joelhos e, com profunda gratidão no coração, sinceramente agradeceu ao Senhor por todas as bênçãos do passado e suplicou a proteção de seu Pai celestial para o futuro. Terminando a sua oração, James orou assim:
– “Sê nosso guia e guarda através dos perigos aos quais podemos ser expostos. Conduz os nossos passos, nós oramos a ti, entre aqueles que são povo Teu, e inclina os seus corações para nos ajudarem. Dá-nos, ó Senhor, um cantinho nesse mundo, onde possamos terminar a nossa peregrinação em tranquilidade e morrer em paz. Nós cremos que tu já preparaste para nós uma habitação para onde iremos, embora não saibamos onde ela é. Capacita-nos a caminhar em fé e confiança em ti, até que Tu nos leve ao lugar onde escolheste para que habitemos. Fortalece-nos, nós te pedimos, em nossa jornada, e dá-nos a Tua paz, por amor ao nosso Senhor Jesus Cristo”.
Depois de orarem assim, juntos, pois cada palavra da oração de seu pai ecoava no coração de Mary, eles se levantaram renovados e confortados e se prepararam para seguirem o seu caminho com coragem, e até mesmo com alegria.
A oração é o discurso mais simples
Que os lábios das crianças podem pronunciar.