(Jacques Maritain)
Pelas
palavras “Arte Cristã”, eu não quero dizer “arte da igreja”... Eu quero dizer
arte Cristã no sentido da arte que carrega consigo o caráter do cristianismo...
a arte Cristã é definida por aquele em quem ela existe e pelo espírito de quem ela
emana: alguém diz “arte Cristã” ou a “arte de um Cristão” assim como alguém
pode dizer... “arte do homem”. Ela é a arte de uma humanidade redimida. Ela
está plantada na alma Cristã, às margens das águas correntes, debaixo do céu
das virtudes teológicas, em meio às brisas dos sete dons do Espírito. É natural
que ela produza fruto Cristão.
Tudo
pertence a ela, tanto o sagrado quanto o secular. Ela está em casa onde quer que
a imaginação e o gozo do homem se estenderem. Sinfonia ou Ballet, filme ou
novela, paisagem ou retrato, libreto de teatro de bonecos ou de ópera, ela pode
tanto aparecer em qualquer uma destas, quanto pode aparecer nos vitrais e
estátuas de igrejas.
Mas pode
ser objetado... a arte não é pagã desde o seu nascimento e está vinculada ao
pecado – do mesmo modo que o homem é pecador desde o seu nascimento? Mas a graça
cura a natureza ferida. Não diga que uma arte Cristã é impossível. Diga, antes,
que ela é difícil, dobradamente difícil – quatro vezes mais difícil, porque é
difícil ser um artista e porque é muito difícil ser um Cristão, e porque a total
dificuldade não é simplesmente a soma, mas o produto dessas duas dificuldades
multiplicado um pelo outro: pois esta é uma questão de se harmonizar dois
absolutos. Diga que a dificuldade se torna tremenda quando toda a sua época vive
longe de Cristo, pois o artista é grandemente dependente do espírito da sua
era. Mas desde quando a coragem já esteve em falta na terra?
Se você deseja produzir uma obra de arte Cristã, então
seja um Cristão, e simplesmente se esforce para fazer uma bela obra, na qual permeará
o seu coração; não tente um “fazer Cristão”.
Não faça a
tentativa absurda de dissociar em si mesmo o artista e o Cristão. Eles são um,
se você é verdadeiramente Cristão, e se a sua arte não está isolada da sua alma
por qualquer sistema de estética. Mas aplique apenas o artista à obra;
precisamente porque o artista e o Cristão são um, a obra derivará inteiramente
de cada um deles.
Não separe
a sua arte da sua fé. Mas deixe distinto
o que é distinto. Não tente unir pela força o que a vida une tão bem. Se você
fosse fazer da sua estética um artigo de fé, você estragaria a sua fé. Se você
fosse fazer da sua devoção uma regra para atividade artística, ou se você fosse
transformar o seu desejo de edificar em um método para a sua arte, você
estragaria a sua arte.
Não
obstante, a arte será Cristã e revelará na sua beleza a interior reflexão irradiada
pela graça, se apenas ela transbordar de um coração abundante de graça. Pela
virtude da arte que a alcança e rege diretamente pressupõe-se que o apetite
está corretamente disposto com relação à beleza da obra. E se a beleza da obra
é Cristã, é porque o apetite do artista está corretamente disposto com relação
a tal beleza e porque na alma do artista, Cristo está presente pelo amor. A
qualidade da obra é, aqui, a reflexão do amor do qual ela emana, e o qual move
a virtude da arte instrumentalmente... Fútil seria, portanto, tentar encontrar
uma técnica, um estilo, um sistema de regras ou um modo de trabalho que seriam
os da arte Cristã. A arte que germina e cresce no homem Cristão pode admitir-se
de uma infinidade destes. Mas estas formas de arte terão todas uma semelhança
familiar e todas diferirão substancialmente das formas não-Cristãs de arte.
- Arte e
Escolasticismo.
Notre Dame: Imprensa da Universidade de Notre
Dame, 1974.
Extraído da obra: A Imaginação Cristã. Leland
Ryken (editor). Shaw Brooks, 2002.
Tradução: Anna Layse A. Davis.
Tradução: Anna Layse A. Davis.
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