III. Caracterização do Ensino Clássico Cristão Atual
Iniciamos este
artigo com um histórico do ensino clássico, de suas raízes na antiguidade
greco-romana à incorporação de muitos de seus métodos pelos cristãos de várias
épocas, e chegando ao sucesso atual deste movimento. Em seguida, fizemos uma
análise da educação clássica pela perspectiva cristã, primeiro advertindo
quanto aos perigos e cuidados que devemos ter como cristãos para com algumas de
suas ênfases e práticas, e então analisando a legitimidade e possibilidade de
seu uso por nós, cristãos, especialmente devidos à semelhança e coincidência de
suas ênfases com os princípios cristãos encontrados na Bíblia.
Nesta terceira
seção, queremos dar aos leitores uma idéia geral (- mas nem tão geral-através
de informações concretas e específicas) de como a educação clássica tem
sido praticada atualmente por escolas, instituições e famílias cristãs,
especialmente no que diz respeito ao currículo, disciplinas, materiais e
práticas de ensino. E finalizaremos com uma lista de recursos -clássicos,
cristãos ou outros materiais úteis - que
podem auxiliar pais , professores e escolas que estejam buscando montar o seu
próprio currículo clássico.
Ficarei
devendo a meus leitores algo que gostaria muito de ajuntar, traduzir,
organizar, adaptar ao português e disponibilizar,que seria uma espécie de
manual de montagem de um currículo cristão, nos moldes clássicos ou não, que
incluísse conteúdos básicos por série, lista de leituras, e organograma, com
planos de curso e de aula, etc. Mas acho que para isso vou precisar da ajuda de
vocês com sugestões de materiais e leituras específicas por faixa etária. Mas
espero que esta listas já sejam de alguma ajuda e incentivem tal iniciativa.
Filosofia Educacional e Adeptos da Educação Clássica
Cristã
A posição adepta do currículo das artes liberais é
também defendida por cristãos como Gordon Clark, R. C. Sproul, David Engelsma e
tem influenciado grande parte da educação cristã atualmente disponível. A
Associação de Escolas Clássicas e Cristãs nos Estados Unidos reúne estudiosos
como Tom Spencer, Douglas Wilson e Ron Lee e tem se empenhado em divulgar o
ideal de uma educação clássica para as escolas cristãs, através da produção de
livros, revistas, boletins informativos e organização de palestras e
conferências sobre o tema[1]. Classical Conversations e Veritas Press são entidades fornecedoras
de currículo e materiais didáticos da perspectiva clássica e cristã.
Gene E. Veith dá uma idéia de como o currículo
clássico tem sido praticado nas principais escolas cristãs dessa tendência:
As
escolas clássicas atuais se utilizam do trivium e do quadrivium
como modelos conceituais sobre os quais estruturam todo seu currículo, mesmo
que se estude as matérias mais convencionais. As escolas clássicas tipicamente
ensinam a ler, escrever, calcular, e ensinam educação cívica, história,
biologia, etc., mas fazem isso de maneira diferente da observada nas escolas públicas,
usando o trivium para estudá-las de maneira mais completa e
sistematizada. As escolas tipicamente clássicas ensinam também o Latim, e dão
destaque a doses maciças de grande literatura. A Associação Acadêmica Clássica
e Cristã também ensina Religião: a Bíblia e a Teologia sendo estudadas com
rigor sistemático semelhante e integradas no currículo todo. (1999, p. 87)
Douglas Wilson explica que a alma da educação clássica
é a conversação com as grandes mentes do passado, mas tomando-se o cuidado de não
se venerar o passado nem a filosofia anti-cristã. Participar dessa "grande
conversação" com os nossos mestres do passado é o que permite que
cresçamos e sejamos enriquecidos pela educação, ou cada geração terá de
reinventar a roda e seremos sempre bebês e pigmeus intelectuais. Não que
teremos que concordar com tudo o que os antigos mestres nos deixaram, mas estar
a par das grandes controvérsias da humanidade, não apenas saber mencionar o
nome de alguns filósofos, é um dos alvos do ensino clássico. George Roche,
fundador da Universidade de Hillsdale, escreve que "educação é
precisamente a preservação, o refinamento e a transmissão de valores de uma
geração para a outra. Suas ferramentas incluem a razão, a tradição, a
preocupação moral e a introspecção...". Essa definição concorda com a
definição do Antigo Testamento de que educar é transmitir verdades às gerações
futuras. Esse autor só esqueceu de incluir a fé na revelação e a iluminação do
Espírito Santo como as ferramenta principais do aprendizado. Já Russel Kirk
defende a educação clássica pelos seus resultados na vida dos alunos: "E,
sendo assim educados, eles saberão que eles não sabem de tudo; e que existem
objetivos na vida além de poder e dinheiro e gratificação sensual; eles terão
visão ampliada e alvos maiores; eles olharão para trás, para os seus ancestrais
e para frente, para a sua posteridade. Para eles, a sua educação não terminará
no dia da formatura."[1]
Gordon Clark, por exemplo, escreveu, sobre o
currículo, que este deveria se basear em alguns princípios: “o princípio mais
distintivo que deve governar o currículo é o destaque de assuntos que se
provarão úteis ao aluno não importa qual vier a ser a sua profissão” (2000, p.
108). A este segue algo que é indispensável a todos: a habilidade para ler,
seguida da escrita e da matemática. Ele acrescenta ainda as línguas
estrangeiras, como Francês, Grego, Latim, Alemão, (no caso do contexto
brasileiro e globalizado atual, destacamos a importância da língua inglesa). A
importância de se conhecer essas línguas é que elas são ferramentas para o
estudo das verdades de Deus de modo acurado, pelo conhecimento da língua
neo-testamentária, e porque, como os crentes devem ser os mais dedicados em
suas profissões, eles precisarão se aprofundar a tal ponto que jamais serão os
melhores advogados se não souberem ler os escritos em italiano, por exemplo. Só
poderão chegar ao topo como cientistas se souberem ler francês e alemão, e só
serão excelentes pedagogos se puderem ter acesso a matérias na língua inglesa e
francesa que ainda não estão disponíveis para o público brasileiro.
Assim, a conclusão de Gordon Clark é que “os
princípios cristãos prescrevem, portanto, um currículo fortemente determinado
pelas artes liberais” (2000, p. 111), em contraste com o currículo voltado para
o treinamento vocacional. A posição de G. Clark está em oposição aberta à
tendência das escolas públicas americanas, marcada pelo abandono do clássico e
pela valorização do pragmático e do vocacional. Clark empenha-se em demonstrar
que essa educação pública está formando cidadãos cujo nível acadêmico tem caído
grandemente, o que se evidencia, segundo ele, na negligência quanto ao estudo
das línguas, na constatação de que os jovens do ensino secundário têm problemas
em ler literatura mais elaborada e no resultado insuficiente de testes simples
de matemática, por exemplo, a que esses alunos foram submetidos (2000, p.
109-110).
Ele não repudia o treinamento vocacional como inútil,
entendendo que tem o seu lugar e que os cristãos devem se destacar também
nessas profissões. O aspecto mais radical de sua posição é que ele não
considera o treinamento como educação, visto que para ele a educação é algo
essencialmente intelectual – de conhecimento das verdades – enquanto o
treinamento é algo que não estimula o pensamento, mas transforma os homens em
máquinas (2000, p. 112). “O currículo das artes liberais tem o alvo oposto. Ao
invés de tornar o homem uma máquina, ele deseja evitar que se torne uma
máquina. (...). Os dedos não são treinados, mas a mente é desenvolvida. O aluno
não aprende a fazer, ele aprende a entender. (...). Como Spinoza, ele pode ter
que triturar lentes para se sustentar – ele pode treinar seus dedos em um curto
espaço de tempo – mas ele passará suas tardes pensando e escrevendo livros que
influenciarão a humanidade por séculos (CLARK, 2000, p. 112).
Ênfases e Práticas Curriculares Clássicas
Para resumir
algumas marcas ou ênfases que tenho observado entre as escolas, materiais
didáticos e currículos clássicos e outros mais tradicionais, destaco esses
diferenciais nas seguintes áreas principais:
Livros Clássicos
- Educadores
clássicos defendem um currículo fortemente baseado na leitura e estudo dirigido
de livros clássicos, de livros "vivos", de obras originais - ao invés
de um currículo baseado em livros didáticos, onde as informações são resumidas,
rasas, e muitas vezes, distorcidas. Eles dizem que, em sua maioria, os livros
didáticos - ou livros texto - não são
libertadores, mas limitadores do conhecimento e do pensamento, visto que eles
dizem à criança e ao professor o que eles devem saber, em que devem pensar, e
limitam o nível de profundidade com que a criança deverá trabalhar um tema.
Mortimer Adler, por exemplo, sustenta que leituras informativas em geral, como
a de notícias, e de livros de baixa qualidade, não conduzem a um aprendizado
verdadeiro, porque não são capazes de agir, mudar, e dar crescimento às pessoas;
eles apenas as mantém ocupadas e, quando enchem sua mente de fatos, estes dão à
pessoa a impressão de serem cheias de conhecimento. Mas se esse conhecimento
não as faz amadurecer, nem se traduz em sabedoria no viver, esses materiais
podem ser úteis apenas como divertimento, mas não fazem o que os clássicos
podem fazer.
Já os
clássicos seriam aqueles poucos livros que tem a capacidade de tirar o leitor
de seu mundo estreito e lhe abrir as portas para uma visão mais ampla da
profundidade e complexidade do conhecimento e da vida humana. Eles são capazes
de fortalecer a mente, de fazer a pessoa identificar as meias verdades e
superficialidade do seu tempo e contexto social, e de fazê-la sustentar a
verdade e ter um bom julgamento. Eles formam alunos pensantes, livres das
opiniões dos ditadores sociais, e tem a tendência de formar bons líderes para o
amanhã.
- Como
identificar uma obra clássica? Em geral, um clássico é uma obra que você pode
ler (ou ver, no caso de pinturas e esculturas; ou ouvir, no caso de músicas)
muitas vezes e sempre extrair e aprender mais com ela a cada releitura, visto terem
sido escritos cuidadosa e estilosamente por grandes mentes. Além de exibirem
estilo distinto, a mais refinada arte e um intelecto claro e profundo, podemos
reconhecer um clássico, segundo Os Guiness, em seu livro "Convite aos
Clássicos", pelas seguintes características: 1) São capazes de criar
mundos de imaginação e de pensamento; 2) Mostram a complexidade e as várias
facetas, positivas e negativas, da vida e do caráter humano; 3) tem efeito
transformador na auto-compreensão do leitor; 4) Convidam e sobrevivem leituras
frequentes; 4) Se adaptam a várias épocas e lugares e dão aos leitores um senso
da vida comum da humanidade; 5) São considerados clássicos por um número
suficientemente grande de pessoas, tanto de pessoas comuns, como de autoridades
literárias; 6) Seu apelo continua por várias eras históricas e para todas as
pessoas, por terem sido escritos para todos.
Leitura e Literatura
- Uma das mais
caracteríticas ênfases do ensino clássico é que crianças de todas as idades
devem ser expostas a uma quantidade extensa de literatura de boa qualidade, a
livros clássicos, escritos cuidadosamente pelos melhores autores, tanto de
obras que estão no nível da criança, como de obras mais ricas e difíceis, cujo
objetivo é "esticar" a mente da criança e lhe dar um modelo mais elevado.
- Desde a mais
tenra infância, os pais devem fazer uma boa seleção dos melhores livros,
poemas, rimas, versículos bíblicos e provérbios, não necessariamente livretos
infantis, e ler para as crianças em voz alta, diariamente. Inicialmente, a
criança deverá ser incentivada a memorizar poemas e textos que são excelentes
literariamente, e que serão importantes para a sua vida futura, ao invés de rimas
infantis de baixa qualidade. Posteriormente, o professor deve fazer perguntas
orais sobre o texto, modelando para a criança como fazer boas perguntas para a
interpretação do texto.
- Há programas
pré-escolares clássicos que substituem completamente qualquer livro didático
pela leitura dos melhores clássicos e obras originais infantis. No ensino
fundamental, os programas utilizam a leitura dos clássicos infantis como
fornecedores de temas geradores para serem trabalhados nas mais diversas
disciplinas, através do sistema de unidades de estudo. Na fase retórica, a
ênfase na interpretação e a reprodução do estilo das obras clássicas é
incentivado interdisciplinadamente.
- Incentivo do
uso do dicionário para melhorar o vocabulário sempre que a criança - ou o
professor - se deparar com palavras desconhecidas.
- Incentivo da
leitura fonética o mais cedo possível, de preferência fora do ambiente
institucional e da rigidez de horários e do ensino formal.
Bíblia e Doutrinas
- Classicistas
Cristãos enfatizam o estudo da Bíblia como o clássico maior.
- As Histórias
da Bíblia são ensinadas cronologicamente, com auxílio de cartão ou linha do
tempo para memorização de fatos, datas e personagens principais.
- O ensino das
histórias bíblicas é ensinado paralelamente ao ensino da história mundial do
período, para que a criança tenha o contexto do mundo e de outros povos da
época.
- As crianças
são incentivadas a conhecer o contexto histórico, cultural, geográfico, etc.
das histórias bíblicas e de seus detalhes.
- Forte ênfase
no ensino de doutrinas, as eternas verdades da Bíblia. Uso de diversos
catecismos ensinados sequencialmente, dos mais simples aos mais complexos,
adequados à idade e capacidade das crianças.
- Memorização
do Catecismo e de Passagens Bíblicas importantes são imprescindíveis.
Musicalização de Versículos e do Catecismo ajudam a memorização.
Forte Ênfase na Gramática e na Matemática
- Essas
disciplinas instrumentais ocupam a maior parte da carga horária, especialmente
nas séries iniciais, e usam diversos artifício como rimas, músicas, repetição e
recitações para memorização de fatos, das definições e regras da gramática, das
tabelas das quatro operações matemáticas, etc.
- Ensino
sistemático, repetitivo e progressivo da gramática, e ensino fonético de
línguas, incluindo muitas vezes línguas clássicas, como o latim e o grego, por
sua capacidade de melhorar o vocabulário e a expressão linguística.
- A Matemática
enfatiza tanto a memorização de tabuadas e regras, como o desenvolvimento da
mente para a compreensão de problemas e sua aplicação às situações da vida, por
meio de identificação de sequências, medidas, tempo, valores, sempre que
possível em conexão com outras disciplinas.
Ensino Diferenciado da Escrita e Redação
- Na frase
gramatical, ênfase no domínio da escrita cursiva, na exposição a textos
excelentes dos melhores autores, na cópia de trechos bem-escritos e no ditado
de frases exemplares, a fim de que a
criança se familiarize e tenha como seu exemplo e alvo a melhor literatura
disponível, antes de ser encorajada a se expressar.
- Na fase
dialética, os alunos aprenderão as técnicas da boa escrita, da ordem e da
composição de frases e parágrafos, da revisão e editoração de textos, e
começarão a produzir textos originais pequenos seguindo um modelo e imitando
textos exemplares.
- Somente na
fase retórica a criança será mais incentivada a produzir textos totalmente
originais, com idéias próprias e com beleza e criatividade de expressão.
Valorização e Ensino Integrado das Artes
Bastante
valorizadas, a arte, o desenho, as técnicas de pintura, e a música erudita são
normalmente integradas às demais disciplinas, e servem para reforçá-las. Por
exemplo, a criança aprenderá as técnicas para desenhar uma arca, um zigurate,
um soldado romano como complemento às aulas de história; ela aprenderá a
esboçar o traçado de animais, a colorir frutas, e a pintar paisagens como parte
das aulas de ciências; ela ouvirá músicas típicas e aprenderá a cozinhar
comidas típicas, e imitará a arte e o artesanato dos lugares do mundo que
estiver estudando nas aulas de geografia; a música clássica pode acompanhar a
cópia de parágrafos que tratam dos diferentes compositores, e assim por diante.
- A arte
inclui não apenas o conhecimento e classificação dos diferentes compositores e
artistas e de seus estilos, mas a reprodução individual de técnicas e métodos
utilizados pelos artistas estudados, e o desenvolvimento prazeroso do gosto pela
arte bela e excelente, com o cuidado de avaliar a arte segundo os critérios da
qualidade e, no caso dos cristãos, da verdade, da beleza e da pureza moral.
Disciplinas Diferenciadas:
- O Ensino das
Temáticas das Diversas disciplinas são ensinados com base ou tendo como tema
gerador a Leitura dos Livros Clássicos apropriados para a idade dos alunos. Em
alguns programas, as disciplinas quase que desaparecem, e o estudo e
interpretação dos clássicos abrange temas diversos na medida em que aparecem
nos livros.
- Ensino da
Lógica Formal como disciplina a partir das séries intermediárias.
- Ensino do
Latim e outras línguas clássicas desde a fase gramatical, e dos prefixos e
sufixos gregos, como método para aquisição de uma boa ortografia e vocabulário.
- O domínio
das disciplinas instrumentais - linguagem e gramática, matemática e história -
precede o ensino sistemático do currículo nas disciplinas tradicionais como
ciências, geografia, estudos sociais, etc.
- Nas fases
iniciais, as ciências são marcadas pelo conhecimento natural e factual do mundo
e de Deus, visando a coleta e a organização de dados. Incentiva-se
especialmente que a criança colecione objetos e classifique objetos de toda
sorte. A geografia tem como alvo a familiaridade com os mapas, com os
diferentes relevos e paisagens, e com as pessoas e culturas dos diferentes
povos. O ensino dessas ciências na fase gramatical não almeja ser sistemático e
exaustivo, mas interessante, para incentivar a curiosidade e a maravilha com a
diversidade natural do mundo de Deus. Somente a partir da fase dialética as
crianças focalizarão na compreensão dos fenômenos e no inter-relacionamento
entre estes. A geografia social e política será deixada para a fase retórica, e
será integrado ao estudo da história.
Repetição e Sequência das Disciplinas:
- O ensino dos
temas dentro das disciplinas científicas, da histórias, e da geografia é
repetido nas três fases principais, sendo explorado conforme as habilidades da
criança em cada fase. Por exemplo: Na fase gramatical a criança vai decorar que
Cristóvão Colombo descobriu a América em 1492, por meio de figuras, de rimas ou
poemas como "In 1492 Columbus Sailed the Ocean Blue". Ou irá decorar
as terminações gramaticais dos verbos, as listas de artigos, conjunções e
pronomes, como se fosse uma cantiga ou trocadilho de palavras no lugar do
"Mamãe mandou...". Na fase dialética, os alunos irão estudar o
contexto histórico, os incidentes e a biografia de Colombo, e começar a
entender porque e como esse fato aconteceu quando aconteceu e da forma que
aconteceu. Semelhantemente, a partir da terceira série, irão estudar
sistematicamente a gramática com suas leis e exceções, com foco na utilização
correta da língua. Na fase retórica, o mesmo assunto será tratado, mas agora de
uma perspectiva analítica e expressiva. O jovem poderá, por exemplo, escrever
um ensaio sobre a importância desse fato para o mundo da época, ou expressar-se
sobre a relação entre o caráter perseverante de Colombo e a sua grande
realização; ou fazer um debate ou encenação sob o tema: "Se Colombo não
tivesse descoberto a América", e atividades semelhantes. Ou irá analisar,
revisar, editar e produzir textos focalizando tanto o uso correto da gramática,
ortografia, e pontuação, como as figuras de linguagem e de técnicas mais
avançadas de expressão.
- Com exceção
do ensino da Matemática e da Gramática, muitos dos materiais clássicos nas
disciplinas mais conteudistas têm a característica de serem flexíveis e
adaptáveis a diversas faixas etárias e audiências. O mesmo tema pode ser
estudado simultaneamente em classes multi-seriadas, por meio de textos ou
esboços introdutórios que apresentam desde os fatos básicos até introduzirem
questões mais complexas. A partir daí, é comum haver várias sugestões de
atividades que reforçam ou aplicam os conteúdos tratados conforme a fase e
capacidade dos alunos; alunos mais novos irão responder perguntas simples,
fazer uma atividade manual ou pintar um desenho. Alunos intermediários irão
responder perguntas mais complexas ou fazer experimentos que explorem o tema.
Alunos mais velhos serão normalmente estimulados a pesquisar e se aprofundar em
facetas do tema, e a fazer esboços ou textos ou outras atividades criativas.
Materiais Didáticos Diferenciados:
- As escolas
clássicas defendem o uso de "livros de verdade" (real books) e obras
clássicas (históricas, ficções, biografias, etc.) como propulsores ou
complementos para o ensino da história, da gramática, da interpretação, da
escrita, etc., no lugar de livros-texto ou de materiais didáticos modernos. Há currículos
clássicos que são formulados exclusivamente a partir da leitura de bons livros,
os quais são explorados com a ajuda do professor por meio de perguntas de
interpretação e se prestam para trabalhar as mais diversas disciplinas, com
exceção, normalmente, da matemática e da gramática estrita que normalmente
fazem uso de livros didáticos. Essas obras clássicas são estudadas
repetidamente em diversos níveis, em virtude do entendimento de que esses clássicos
são profundos, ricos e multifacetados e seu estudo será enriquecido e
diferenciado nas diversas releituras.
- Quando
usados, os livros didáticos escolhidos pelas escolas clássicas são
conteudistas, lógicos, e auto-explicativos, que ajudem o aluno a se tornar um
auto-didata ao apresentar uma sequência incrementada dos assuntos. Assim, os
novos assuntos são introduzidos bem progressivamente, e cuidadosamente
construídos sobre conhecimentos anteriores. Todos os assuntos aprendidos serão
bastante revisados, e os testes são cumulativos, para garantir um aprendizado
duradouro. Na matemática, por exemplo, cada assunto e habilidade será explorado
racionalmente e aplicado extensivamente por meio dos mais diversos problemas,
atividades e situações práticas. A história também seguirá uma estrutura
cronológica e uma linha do tempo; a geografia será ensinada também de forma
lógica e progressiva, e muitos conhecimentos dentro das várias ciências serão
integrados a outras disciplinas. As disciplinas instrumentais, como a língua, a
leitura, a escrita, a matemática, a partir da fase dialética, serão trabalhados
em conjunto e integrados às demais disciplinas mais específicas.
Práticas de Ensino Diferenciadas
- Valorização
da excelência acadêmica e do aprendizado real ao invés da carga horária; da
qualidade sobre a quantidade. Isso é possível devido a atenção mais
individualizada dos alunos e ao método tutorial que introduz o tema aos alunos
e a partir daí os orienta a se aprofundar nele por iniciativa própria a partir
de pesquisas, leituras e atividades.
- Estudo mais
conteudista e menos "enfeitado", embora aplicado e manipulativo
quando necessário, e até mesmo lúdico nas atividades para as crianças menores.
Mas, em geral, os livros clássicos apresentam textos e tarefas em
preto-e-branco, com poucas ilustrações ou gráficos coloridos, com diagramações
simples e centradas na apresentação do assunto e nos exercícios do tema
ensinado de forma objetiva e clara.
- Menos tempo
em sala de aula e mais tempo em leituras e atividades. Em contraste com as escolas tradicionais
norte-americanas, que têm uma carga horária de seis a sete horas diárias, que
incluem tempo para recreação, esportes, etc., as escolas clássicas têm uma
carga horária menor, de cerca de quatro horas diárias ou menos, algumas até em
dias intercalados, por concentrarem-se no ensino acadêmico e deixarem os outros
aspectos a critério dos pais.
- Ensino
individualizado que não segue a estrutura das séries tradicionais, as quais são
obliteradas pelo nível real de cada aluno em cada disciplina, o qual pode
progredir nos diferentes temas ou disciplinas conforme o seu interesse ou
conforme a ordem que o professor-tutor os apresenta. Por isso o ensino segue o
ritmo de cada criança ao invés de padronizar os horários e conteúdos como na
escola tradicional.
- Incentiva e
ensina o aluno a ser auto-didata, a buscar o conhecimento verdadeiro nas
melhores fontes, a interpretar textos e tarefas por si mesmo, a e identificar
falácias e falsidades, reconhecendo a verdade onde ela for encontrada e
aprendendo a valorizar os autores e as obras mais excelentes.
- Realização
de atividades de estímulo e expressão intelectual e retórica, como debates,
participação ativa dos alunos nos meios de comunicação, exposições orais sobre
temas, produção de material próprio para publicação, etc.
Excelente post, obrigada!
ResponderExcluirAdorei,texto impecável. Só não encontrei a próxima postagem e gostaria de saber se poderia disponibilizar as fontes que utilizou para escrever este magnífico artigo? Obrigada.
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