CAPÍTULO V
Assim, dia após dia se passava e um ou outro
dos seus pequenos servos estava sempre ocupado fazendo alguma coisa para ela.
Ou as suas mãos brincavam com algum dos seus interessantes brinquedos, ou os
seus olhos olhavam para belas figuras e para as faces gentis e amáveis dos seus
queridos amigos e parentes, ou as suas orelhas ouviam belas músicas e
divertidas histórias, ou os seus pés a carregavam para cima e para baixo, aqui
e ali, e para todos os lados. Se ela não tivesse olhos, ela ainda poderia usar
as suas mãos, mas não poderia ver os brinquedos que elas seguravam. Se ela não
tivesse orelhas, ela nunca poderia ouvir a suave voz da sua mãe e nunca poderia
aprender a falar ou a cantar. Se ela não tivesse mãos, ela poderia andar para
cá e para lá, e poderia ver coisas muito bonitas, mas ela não poderia tocar nenhum
brinquedo, ou segurar a sua boneca querida, ou acariciar e afagar um gatinho. E
se ela não tivesse pés, ela poderia até usar os seus olhos, e as suas orelhas,
e as suas mãos, e a sua língua, mas enquanto as outras crianças pulam, correm e
brincam, a Susy teria de ficar sentada e quietinha em sua cadeira e sentiria
como é tão longo o dia de alguém que não pode se mover.
Eu ouso dizer que você também conhece algum
menininho que não pode ouvir ou falar, ou alguma menina fraquinha e pálida, que
não pode correr e brincar. E se Deus tem sido tão bom para você ao ponto de lhe
dar algo que Ele achou por bem não dar a estas outras crianças, o quanto você
deve agradecê-Lo! E quão feliz você deveria ficar se, um dia, você puder lhe
emprestar um livro, ou dar-lhe uma flor, ou fazer qualquer ato gentil pelo
menino surdo ou mudo, que nunca ouviu a sua mãe lhe chamar de “querido!”, não
importa quantas vezes ela o tenha dito. E se, um dia, você puder ser o que a
Bíblia chama de “pés para o coxo”, se você correr para pegar a bola daquela
menininha pálida e fraca, quando ela a deixar cair; se você puder subir as
escadas para pegar a sua boneca, quando ela a quiser; será que você não
estaria, assim, tornando os seus próprios servinhos muito úteis e felizes? E
se, um dia, acontecer de você estar junto a uma criança cega, você não gostaria
de lhe emprestar os seus olhos de vez em quando? Mas já que você não pode fazer
isso, você certamente não amaria segurar a sua mão e levá-la para onde quer que
ela precise ir, e quando você aprender a ler, você não amaria ler lindas
estórias para ela?
Havia, certa vez, um querido menininho, com
pouco mais de dois anos de idade, que ficou muito doente. A sua cabeça doía
tanto que ele não gostava de brincar ou correr. Ele gostava que o seu papai ou
mamãe lhe carregassem pela sala, e então, quando a sua pobre cabeça não estava
doendo tanto, eles conversavam com ele e lhe contavam histórias. Um dia, o seu
pai disse à sua mãe:
- Eu acho que o nosso querido Charlie nunca
ficará bem. Eu acredito que o nosso Senhor Jesus logo o levará para o céu. E eu
desejo falar a ele bastante sobre Jesus para que, no momento em que ele chegar
no céu, ele fique feliz em estar próximo a um Amigo tão gentil e amoroso.
Assim, o pai do Charlie tantas vezes tomava o
seu pobre menininho em seus braços e deixava que ele descansasse a sua cabeça
em seus ombros, enquanto ele andava mansamente de um lado para o outro, falando
a ele sobre Cristo. Ele lhe contou todas aquelas doces histórias da Bíblia, e
contou como Jesus se compadecia dos doentes, como Ele os curou, e quantos coxos
Ele fez andar, e a quantos cegos Ele fez ver. Então, um dia, depois de estar
falando a ele sobre todas estas coisas, ele teve de dar Charlie para a sua babá
enquanto precisava sair. E o Charlie deitou a sua cabecinha nos ombros da babá,
assim como ele fazia com o seu pai, até que, de repente, ele a levantou e
disse:
-
Mary,
você sabia que Jesus não tinha olhos?
-
Oh,
sim... Jesus tinha olhos, sim – disse a Mary.
-
Ele
tinha antes, mas Ele os deu ao pobre homem cego, disse o Charlie.
Você vê, o Charlie era tão pequenino que ele
entendeu o seu pai dizer que, quando Jesus deu olhos ao homem cego, Ele teve de
dar os seus próprios.
O pequeno Charlie está no céu agora, e já tem
morado ali por muitos anos. Ele, há muito tempo, conhece muito mais sobre a
bondade de Deus do que qualquer pessoa que ainda vive neste mundo. E se ele
pudesse falar com você, ele lhe contaria como é melhor ficar sem olhos, ou mãos,
ou pés, do que não amar Àquele que se dispôs até mesmo a morrer para que você
não tivesse de ficar sem Lhe conhecer e amar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário