Educação Clássica Cristã
Parece
crescente o número de pais e educadores que têm se mostrado curiosos sobre a
educação clássica, fenômeno educacional moderno que tem se difundido no meio
educacional, com o surgimento de muitas escolas dessa persuasão, e com um
crescente número de adeptos na educação domiciliar. Seus aderentes têm exaltado
o seu currículo diferenciado, o sucesso de seus métodos de ensino e os excelentes
resultados acadêmicos dos seus alunos, tanto no contexto do homeschooling, como nas escolas e
cooperativas clássicas que têm se multiplicado, especialmente em países de
língua inglesa, a exemplo dos Estados Unidos. Nesse pequeno artigo, gostaria de
fornecer aos leitores um breve histórico e caracterização deste modelo
educacional e de sua prática; em seguida, me proponho a apresentar algumas
observações sobre o método clássico de uma perspectiva cristã. E finalmente
busquei indicar algumas leituras adicionais para quem deseja estudar mais o
tema ou conhecer materiais didáticos e instituições adeptas dessa tendência.
I- Histórico
Origem da Educação Clássica
A educação
clássica no sentido mais estrito e histórico do termo se refere ao modelo educacional
desenvolvido pelos gregos antigos, especialmente creditado a Aristóteles, para
o desenvolvimento da razão humana segundo as perspectivas e necessidades do seu
contexto sócio-político. Interessados
como eram os filósofos gregos na arte da lógica e da aquisição de conhecimento,
seja com base no método platônico de buscar esse conhecimento no mundo abstrato
das idéias, ou no método aristotélico que valorizava mais o conhecimento do
mundo físico, eles formularam um ideal educacional que visava formar pensadores
altamente racionais; cidadãos virtuosos e úteis à sociedade, e excelentes
oradores com habilidade para expor, discutir e propagar os ideais da
civilização greco-romana por meio da política, da filosofia e de uma educação liberal, própria aos cidadãos livres,
que, ao aprenderem a pensar, seriam "libertos" da ignorância e
elevados a uma categoria mais humana, mais excelente. Para isso, os pequenos
cidadãos dessa sociedade "iluminada" deveriam ser formados nas Artes
Liberais, ou seja, num conjunto de sete disciplinas que buscavam exatamente a
formação intelectual e acadêmica de cidadãos pensadores e livres. Essas sete
disciplinas eram divididas em duas etapas, que seriam apropriadas aos
diferentes estágios de desenvolvimento da pessoa: o trivium consistia no ensino de disciplinas básicas e instrumentais
através da gramática, da lógica e da retórica, e compreendia todo o ensino
fundamental e médio. Já mais a nível universitário, os alunos poderiam se
aprofundar no quadrivium, que
compreendia a música, a aritmética, a astronomia e a geometria.
O Método Clássico: O Trivium e
o Quadrivium
A primeira
etapa do trivium era mais apropriada
àquela fase inicial em que as crianças menores, ávidas por absorver uma grande
quantidade de informação, e com grande facilidade de memorização, embora ainda
não capazes de desenvolver o pensamento formal, eram ensinadas, por meio da repetição
e memorização, as leis e os fatos principais da "gramática" das
línguas, da matemática e dos diversos assuntos, os quais elas iriam, no momento,
absorver pela memorização para serem desenvolvidos e aplicados no futuro. Essa
fase do desenvolvimento do pensamento ficou conhecida como a "fase gramatical",
e as escolas especializadas nesse nível da instrução vieram a ser chamadas de
escolas de gramática, pois buscavam ensinar às crianças as leis e princípios
fundamentais das disciplinas instrumentais. Nessa fase as crianças aprendiam a
ler e a escrever, por vezes mais de uma língua, a realizar operações básicas
matemáticas, ("a gramática da matemática"), e eram apresentadas pela
primeira vez a muitos fatos simples envolvendo perguntas como "o que?
Quem? Quando? Onde? além de virtudes e habilidades considerados importantes
para as fases subsequentes.
Numa fase
posterior (grossamente dos 8 aos 12 anos) as crianças, já bem estabelecidas na sua
capacidade de ler bem, e supridas dos conhecimentos e habilidades necessárias
para dar prosseguimento à sua formação liberal, agora na fase lógica, iriam aprender a desenvolver a sua mente racional.
Por meio dos princípios da lógica e da arte da dialética, o professor fazia uso
de perguntas elaboradas com vistas a acessar o conhecimento dos fatos que a
criança já possuía para guiar as suas pupilas a um conhecimento mais profundo
dos fatos, ao conhecimento de novos fatos, e à percepção da interligação entre
eles, das noções de causa e efeito, sempre por meio de um método lógico e
racional. A criança aprendia a fazer perguntas que a levassem a um nível mais
elevado de conhecimento, que agora incluíam o "Por quê, o Para quê e o
Como" de assuntos apropriados à sua idade e fase de desenvolvimento. Até
aqui a criança está aprendendo por meio da memorização e está treinando a razão
a fazer perguntas que a levem ao conhecimento do mundo, mas ela ainda não é
considerada capaz de expressar-se de maneira original e criativa sobre o mundo.
A partir dos
doze anos, agora capacitados com as habilidades instrumentais necessárias para
buscar o conhecimento por si próprios; já bem treinados a aprofundarem-se no
conhecimento do mundo por meio de perguntas lógicas e metódicas; e com a mente
suprida de muitos e variados fatos e conexões de fatos, os jovens seriam
estimulados, na fase retórica, a aperfeiçoarem a sua capacidade de expressão
pessoal criativa e estética sobre assuntos mais analíticos e controversos. Por
meio da retórica, dos debates e da arte da argumentação persuasiva, os jovens
aprendiam a ser membros ativos da sociedade livre a que pertenciam,
participando da política, das artes, e contribuindo para os avanços científicos
da época.
Somente aqui
eles iriam desenvolver o seu intelecto ao mais alto grau, focalizando agora na
expressão de opiniões próprias bem firmadas em fatos e argumentos lógicos, e na
beleza artística e habilidades de persuasão da linguagem falada e escrita.
Após dominado o trivium, o estudante, no que
agora corresponde ao grau universitário, estudaria o quadrivium –
música, aritmética, astronomia e geometria – que podem ser vistas em linhas
gerais como espécies de verdade:
A música incluiria verdades estéticas, a percepção da harmonia ordenada
da beleza, que era vista não como mero prazer subjetivo, mas como um absoluto.
A Aritmética incluiria os absolutos matemáticos intrínsecos ao universo e à
pura idealização. A astronomia
compreenderia todas as ciência empíricas, as verdades percebidas pelos sentidos
e pelas provas externas. A geometria incluiria a arquitetura e o desenho, as
relações espaciais implícitas tanto na engenharia como nas artes visuais.
(VEITH, 1999, p. 87)
Desenvolvimento Histórico da Educação Clássica
Não há dúvidas
de que esse tipo de educação formou excelentes pensadores, matemáticos,
políticos e oradores. Tendo um insight
verdadeiro sobre as características e estágios de desenvolvimento da mente
humana, os gregos supriram a educação de um modelo de desenvolvimento acadêmico
que sobreviveu incontestável por muitos séculos, tendo até hoje adeptos. O
apóstolo Paulo e os pais da igreja, os mestres medievais, os grandes pensadores
do renascimento, os reformadores, e os puritanos do século VXII, que fundaram
as grandes universidades na Inglaterra e na América do Norte, todos foram
formados segundo as linhas gerais do modelo clássico. Vemos, portanto, que o
método clássico tem seus adeptos seculares e cristãos, prestando um serviço a
educadores de origem e propósitos muito diversificados. Seus métodos são como
ferramentas, recentemente redescobertos como as "ferramentas perdidas da
aprendizagem", que como martelos, serras, e pás, serviriam tanto para a
construção da cidade dos homens ou da igreja de Deus.
Declínio da Educação Clássica
Somente nos
últimos séculos, que seguiram às grandes revoluções, a educação clássica passou
a ser vista como inadequada aos novos ideais sociais, e foi progressivamente
desgastada e denunciada ora como elitista demais para a classe proletariada,
ora como idealista e teórica para a era pragmática e industrializada, ora como
uma ameaça aos interesses dos governos tiranos, ditatoriais e comunistas, ora
como ultrapassada diante das novas pedagogias progressistas e relativistas.
Contudo, na prática, todo conhecimento intelectual verdadeiro continua sendo estritamente
adquirido pelo método clássico, quer você esteja aprendendo a ler, a fazer uma
receita de bolo, a construir um avião, ou a tocar piano: primeiro nós entramos
em contato com um fato que precisamos memorizar ou reter. Depois nós
trabalhamos esse fato em nossa mente por meio de perguntas e etapas lógicas; e
finalmente nós expressamos esse conhecimento aplicando-o às situações da vida. Isso
acontece porque a gramática, a dialética e a retórica correspondem às leis da
aquisição acadêmica do conhecimento; são as fases principais do aprendizado
intelectual. Qualquer educação que subverte essa ordem, ou ignora uma dessas
etapas está fadada a desmoronar, razão porque os métodos pedagógicos
progressistas atuais estão levando a um buraco que muitos pais e educadores
estão tentando remediar, perguntando-se: Qual é o problema com a educação
atual? Porque as crianças modernas da era tecnológica estão academicamente
defasadas academicamente em comparação com as gerações anteriores?
Continua...
Olá, meu nome é Gabriela e tomei conhecimento da HS hà pouco tempo e chhuei ao seu blog por meio do 'Nossa Herança'. Não tenho filhos nem sou casada, mas o tema me interessa e quero poder aprender mais. Obrigada por compartilhar.
ResponderExcluirOlá, meu nome é Gabriela e tomei conhecimento da HS hà pouco tempo e chhuei ao seu blog por meio do 'Nossa Herança'. Não tenho filhos nem sou casada, mas o tema me interessa e quero poder aprender mais. Obrigada por compartilhar.
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