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CAPÍTULO III
Contudo, uma certa manhã, quando ela estava com
apenas dez semanas de idade, a Susy começou a brincar com um brinquedo. O que
você acha que era? Era a sua própria mãozinha! Ela a sentiu, a levantou e olhou
para ela, a provou e admirou bastante. Até mesmo um sério juiz, sentado em sua
poltrona e parecendo tão sábio quanto o Rei Salomão, dificilmente poderia
parecer mais sério e sábio do que a Susy quando ela primeiramente descobriu que
possuía duas mãozinhas! E como ela as virava, enroscando os seus dedinhos
miúdos, girando-os e dobrando-os para todos os lados! Agora ela achava que
tinha descoberto para que serviam aquelas coisinhas que até então não faziam
nada senão dar tapas, arranhar e engordar. Ora, elas serviam como brinquedos,
com certeza! E ela nunca precisaria chorar para chamá-las, ou levantar para
procurá-las, pois ali estavam elas, sempre pertinho e sempre tão gostosas e
macias! E assim a Susy brincava com as suas mãos, e conversava com elas, e as
contava histórias em Grego, ou Latim ou Holandês, ninguém sabe, e estava assim
muito animada e contente.
A sua mãe estava muito contente em ver Susy
brincando com as suas mãozinhas, e depois de um tempo ela lhe ofereceu um pedacinho
de papel. A Susy olhou para ele e queria pegá-lo. Mas as suas mãos não sabiam
como fazer isso; elas só serviam para brincar uma com a outra. Mas elas queriam
aprender a segurar coisas para a Susy, e começaram a praticar bastante, todos
os dias, até que, enfim, elas aprenderam a segurar o seu chocalho para ela, e
depois uma laranja, e depois um molho de chaves. Quão boas servinhas eram as
suas mãozinhas! Você não acha? E mais ou menos nessa época, a Susy fez uma
grande descoberta; ela descobriu que ela tinha dois pezinhos só dela e achou
que seria uma boa ideia agarrar um deles e colocar em sua boca. Ela trabalhou
muito diligentemente até se suceder nisso, ela era uma bebê tão ocupada que
quase não encontrava tempo para tomar o seu café-da-manhã. Eu suponho que ela
pensava que aqueles dois pezinhos gordinhos só serviam para ela brincar com
eles, assim como ela havia pensado sobre as suas mãozinhas.
Talvez você gostaria de ler uma carta que a
Susy escreveu para o seu priminho sobre este período. Eu imagino que ela tenha
pedido à sua mãe ou a alguém para escrevê-la por ela:
“Meu querido primo,
Desde que eu lhe escrevi, eu já cresci
bastante, pois estou agora com seis meses de idade. Eu ainda não consigo sentar
sozinha, pois quando eu tento fazer isso, eu caio para os lados. Mas com uma
almofada atrás de mim, eu consigo sentar muito bem e brincar com os meus
brinquedos. Eu tenho uma antiga cesta cheia pela metade com os meus brinquedos,
sobre os quais eu lhe contarei. Primeiro, eu tenho um anel de marfim com um fio
azul nele, mas eu não penso grandes coisas dele. Depois, eu tenho uma grande
rolha de garrafa que veio de um galheteiro de vinagre. Terceiro, eu tenho dois
carretéis amarrados juntos, e atado a eles, de alguma forma, está um pedaço
completo de fita que eu agarrei da cesta da minha mãe e chupei até ela dizer
que não servia para mais nada e que eu posso até ficar com ele. Quarto, eu
tenho uma tampa que veio de uma garrafa de alguma coisa doce, pois ela é muito
gostosa. Eu gosto muito desta tampa, tanto que eu até deito no chão e brinco
com ela como um gato brinca com um rato. Eu tenho ainda uma metade de uma moeda
com um buraco no meio que a minha avó me deu; mas eu sempre choro quando brinco
com ela, pois ela é tão dura que dói na minha boca. Eu tenho muitos retalhos
que a minha mãe me deu. Quando ela corta as minhas camisolas, ela me dá os
pedaços que estão sobrando e alguns são brancos, outros rosa e outros azuis.
Você sabe que eu começarei a usar camisolas curtas logo, logo. Mas as minhas
coisas favoritas para brincar são duas varetas vermelhas que eram parte de um
antigo leque que a sua mãe deixou aqui. No outro dia, eu estava deitada no chão
e pensei em tentar até onde eu conseguiria enfiar uma delas na minha garganta.
Depois de empurrar um bocado, eu comecei a chorar. A minha mãe me segurou para
cima e puxou-as para fora, mas a minha garganta estava arranhada e dolorida,
então eu acho que não vou mais tentar enfiá-las tanto da próxima vez.
Às vezes eu faço uma visita à nossa velha gata
e os seus três gatinhos. Eu falo com eles o mais alto que eu consigo, mas eles
não parecem entender o que eu digo. E eu não sei porque, mas eles não gostam
quando eu tento colocar os seus rabos na minha boca.
Eu sinto muito dizer que à medida que eu cresço
em sabedoria, eu também me torno mais levada. Eu sempre choro todas as vezes
que a minha mãe está me limpando ou vestindo, e fico muito zangada com ela pois
eu não gosto que façam isso comigo. E no momento que eu lhe vejo tirar a minha
cesta de mim à noite, para me vestir e colocar pra dormir, eu choro com todas as
minhas forças e não paro de jeito nenhum até sentir alguma coisa macia na minha
boca. Ontem à noite, enquanto eu brincava no chão com a minha amada tampa, a
minha mãe veio por trás e desatou os meus botões e tirou toda a minha roupa por
trás, então desta vez eu não chorei. Eu tenho dois pés que eu julgo muito úteis
para chutar quando estou com raiva, e duas mãos para pegar os brinquedos quando
eu quero brincar, e dois olhos que me mostram figuras e outras coisas bonitas e
que não descansam nunca, exceto quando eu estou dormindo. E se você um dia
responder esta carta, eu tenho duas orelhas para ouvir a sua carta sendo lida.
Eu sou uma bebê muito boazinha logo quando eu
acordo, pela manhã. Eu fico deitada na cama por um bom tempo, brincando com os
meus pés ou com qualquer outra coisa que eu consiga alcançar. Às vezes eu
desamarro o capuz da mamãe e às vezes eu arranho e puxo as suas bochechas e o
seu queixo. Muitas vezes, eu quase arranco o nariz do papai do seu rosto, pois
eu não sei para que ele precisa dele quando está dormindo. Isso não lhe relembra
dos seus velhos tempos, três ou quatro anos atrás, quando você era um bebê? Se
você vier aqui um dia, eu não sei o que eu farei para lhe entreter, pois eu ainda
não sei falar. Eu provavelmente arranharei o seu rosto e puxarei o seu cabelo,
e colocarei os meus dedos nos seus olhos, pois eu não sei fazer muita coisa além
disso, já que sou um bebê tão pequeno. Eu estou muito cansada agora e
precisarei me despedir, mas qualquer dia eu lhe escreverei novamente.
Da sua priminha,
Susy.”
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