Depois do conselho fundamental sobre criação de filhos apresentado na postagem anterior "Treine os seus filhos no caminho em que devem andar, e não caminho que eles preferem", J. C. Ryle sabiamente nos concede agora este segundo e precioso conselho, o qual deverá andar sempre de mãos dadas com o anterior. Estes dois, quando harmonicamente praticados, podem ser entendidos como sendo a chave básica para a criação de filhos no temor do Senhor; e é deste ponto de partida que se seguirão os demais conselhos e princípios a serem apresentados nas próximas postagens. Boa leitura, e que a reflexão bíblica sobre este conselho faça com ele seja praticado cada vez mais em nossos lares!
I.
Treine os seus filhos com todo o carinho,
afeição e paciência.
Eu não quero dizer, com isso, que você deve mimar demais os seus filhos,
mas o que eu quero dizer é que você deve demonstrar claramente o seu amor por
eles.
O amor deve ser o fio de ouro que se entremeia por toda a sua conduta. O
carinho, a gentileza, a longanimidade, o domínio-próprio, a paciência, a simpatia,
a disposição para dar atenção aos problemas da infância, a prontidão para
participar das alegrias da infância, - estas são as cordas pelas quais uma criança
pode ser guiada mais facilmente – e estas são as pistas que você deve seguir se
você deseja encontrar o caminho para o seu coração.
Há muito poucos, mesmo entre os adultos, que não serão mais facilmente
puxados do que dirigidos em certa direção. Há algo em nossas mentes que
se levanta contra qualquer tipo de compulsão; nós damos as costas e endurecemos
nossos pescoços contra qualquer ideia de uma obediência forçada. Nós somos como
jovens cavalos nas mãos de um domador: trate-os com gentileza e dê grande valor
a eles, e pouco a pouco você poderá guiá-los pelas correias; mas use-os
rudemente ou com violência, e muitos meses se passarão até que você consiga
adestrá-los.
Assim também, as mentes das crianças são moldadas no mesmo molde das
nossas próprias mentes. O rigor e a severidade das nossas ações só farão com
que elas se endureçam e dêem as costas para nós. Isso fechará os seus corações
e você se desgastará para conseguir abrir novamente essa porta. Mas apenas
deixe que eles percebam quanto carinho você tem para com eles – e que você
realmente deseja o melhor para eles e deseja fazê-los felizes – que se você os punir,
é para o seu próprio proveito, e que, como o pelicano, você daria
do seu próprio sangue para nutrir as suas almas... apenas demonstre tudo isso a
eles e logo eles serão todos seus. Mas eles devem ser lisonjeados
pela sua gentileza, se é que você realmente deseja ganhar a sua atenção.
Certamente, a prática e a razão também poderão nos ensinar essas
mesmas lições. As crianças são criaturas frágeis e tenras e, como tais, elas
precisam de um tratamento paciente e atencioso. Nós precisamos lidar com elas
delicadamente, como objetos frágeis, ou o nosso manuseamento brusco pode vir a
fazer mais mal do que bem. Elas são como pequenas mudas de plantas que precisam
ser aguadas com cuidado – frequentemente, mas pouco a pouco.
Nós não podemos esperar tudo de uma vez. Nós temos de lembrar que
crianças são crianças para que possamos ensiná-las de acordo com o que elas
conseguem suportar. As suas mentes são como um bloco de metal – que não pode
ser moldado e feito útil de uma só vez, mas somente por uma sucessão de
pequenas rajadas de fogo. Os seus entendimentos são como vasos de pescoço
estreito, nós devemos despejar o vinho do conhecimento gradualmente neles, ou a
maior parte derramará para fora e será desperdiçada. “Linha após linha e
preceito após preceito, um pouco aqui e um pouco ali” essa deve ser a nossa
regra. A pedra de amolar faz o seu trabalho lentamente, mas o polimento
frequente dará à faca uma afiada lâmina. Verdadeiramente, é necessário grande
paciência no treinamento de crianças, mas sem ela, nada poderá ser realizado.
Nada poderá compensar a ausência dessa ternura e amor. Um ministro pode
proclamar a verdade em Jesus Cristo de modo claro, impositivo e irrefutável;
mas se ele não a proclamar em amor, poucas almas serão ganhas. Assim também
você pode conferir deveres aos seus filhos – ordená-los, ameaçá-los, puni-los,
argumentar com eles -, mas se faltar afeição no seu tratamento para com eles, o
seu trabalho será todo em vão.
O amor é o maior segredo de um treinamento bem-sucedido. A ira e a
austeridade podem assustar, mas elas não irão persuadir a sua criança de que
você está correto; e se ela lhe ver frequentemente com temperamento alterado,
logo ela deixará de lhe respeitar. Um pai que fala a seu filho como Saul falava
com Jonathan (1 Samuel 20:30), não pode esperar manter a sua influência sobre a
mente do seu filho.
Tente ao máximo conservar as afeições dos seus filhos para com você. É
muito perigoso provocar medo neles. Quase qualquer coisa é melhor do
que manter reservas e pressões entre você e seus filhos; e isso certamente virá
como consequência do medo provocado neles. O temor põe fim ao comportamento
aberto e franco – o medo leva à supressão e ao encobrimento – ele semeia a
semente de muita hipocrisia, e leva muitos à mentira. Há uma mina de verdade
nas palavras do Apóstolo aos Colossenses: “Pais, não irriteis os vossos filhos,
para que não fiquem desanimados” (Colossenses 3:21). Nunca ignore este
conselho.
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