VIII.
Treine-os ao hábito da fé.
O que eu quero dizer com isso é que você deve
treinar os seus filhos a acreditarem no que você diz. Você deve tentar fazer com
que eles confiem nos seus julgamentos, e respeitem as suas opiniões como
melhores do que as suas próprias. Você deve acostumá-los a pensarem assim; quando
você diz que algo é ruim para eles, eles podem ter certeza de que aquilo é
ruim; e quando você diz que algo é bom a eles, eles podem ter certeza de que é
bom. Que eles possam confiar no seu conhecimento como sendo, em suma, melhor do
que o deles mesmos, e que eles possam crer e se basear sempre na sua palavra. Treine-os
a sentir que aquilo que eles ainda não sabem agora, eles provavelmente saberão
um dia, e que eles fiquem satisfeitos sabendo que há uma razão e um motivo para
tudo o que você requer deles.
Quem pode descrever a bem-aventurança de se possuir
um verdadeiro espírito de fé? Ou mais ainda, quem pode falar sobre a miséria
que a falta de fé tem trazido ao mundo? A incredulidade fez com que Eva comesse
do fruto proibido – ela duvidou da veracidade da palavra de Deus: “certamente
morrerás”. A incredulidade fez com que o mundo antigo rejeitasse os avisos de
Noé, de modo que pereceu em pecado. A Incredulidade manteve o povo de Israel no
deserto – ela foi a grade que lhes barrou a entrada na terra prometida. A
incredulidade fez com que os Judeus crucificassem o Senhor da Glória - eles não
creram na voz de Moisés e dos profetas, embora eles as lesses todos os dias. E
a incredulidade é o pecado predominante no coração humano até agora: a falta de
fé nas promessas de Deus; falta de fé nas ameaças de Deus; falta de fé na nossa
própria pecaminosidade; falta de fé no perigo que corremos; falta de fé em tudo
o que vai de encontro ao orgulho e ao mundanismo dos nossos próprios corações.
Leitor, você estará treinando os seus filhos sem propósito algum se você não os
treinar a um hábito de fé implícita: fé na palavra dos seus pais e confiança de
que o que os seus pais dizem deve estar correto.
Eu tenho ouvido alguns dizerem que você não deve
requerer das crianças algo que eles não conseguem compreender, que você deve
explicar e dar uma razão a tudo o que você quiser que elas façam. Eu os
admoesto solenemente contra esta noção. Eu lhes digo claramente: este princípio
é mau e não é sadio. É claro que seria um absurdo você deixar como mistério tudo
o que você faz, e há muitas coisas que devem sim ser explicadas às crianças, de
modo que elas possam entender aquilo que é razoável e sábio. Mas criá-las com a
noção de que elas não precisam confiar em nada e de que elas, com os seus entendimentos
fracos e imperfeitos, devem ser esclarecidas sobre o “porque” e o “portanto” de
todas as coisas, a cada passo que tomarem, este é realmente um temeroso erro, e
bem provavelmente terá o pior dos efeitos em suas mentes.
Argumente com o seu filho se você estiver
disposto a fazê-lo, em certos momentos, mas não esqueça de manter na mente do
seu filho (se você de fato o ama) que ele é apenas uma criança no final das
contas: ele pensa como uma criança, ele age como uma criança, e portanto ele
não deve esperar conhecer o motivo de todas as coisas de uma só vez.
Coloque diante dele o exemplo de Isaque, no dia
em que Abraão o levou para ser oferecido no Monte Moriá (Gen. 22). Ele
perguntou ao seu pai aquela única questão: “onde está o cordeiro para o
sacrifício?”, e ele recebeu apenas a simples resposta: “Deus proverá a Si mesmo
um cordeiro”. Como, ou onde, ou quando, ou de que maneira: nada disso foi dito
a Isaque, mas aquela resposta foi suficiente. Ele creu que tudo ficaria bem
porque o seu pai assim lhe dissera, e ele se contentou.
Diga aos seus filhos, também, que todos nós devemos
ir aprendendo aos poucos; que há um alfabeto a ser memorizado em cada tipo de
conhecimento – que até mesmo o melhor cavalo do mundo teve de ser domado um dia
– e que chegará o dia em que eles enxergarão a sabedoria de todo o seu
treinamento. Mas enquanto isso, se você disser que algo é correto, isso deve
ser suficiente para eles; eles devem crer em você e se contentar com isso.
Pais, se qualquer ponto sobre o treinamento dos
seus filhos deve ser considerado importante, tenha certeza de que este é um
deles. Eu os admoesto, em nome da afeição que você tem para com os seus filhos:
use todos os meios possíveis para treiná-los ao hábito da fé.
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