CRIANDO NÁRNIA – C. S. LEWIS

Então veio
a Forma. À medida que estas imagens se foram se organizando em eventos (i.e.,
se transformaram em estória), elas não pareciam requerer interesse amoroso ou uma
elaborada psicologia. Mas a Forma que exclui tais coisas é o conto de fadas. E
no momento que eu pensei nisso, eu me apaixonei com a Forma em si mesma: a sua
brevidade, a sua severa contenção nas descrições, o seu flexível
tradicionalismo, a sua inflexível hostilidade a toda análise, digressão,
reflexão e “gás”. Eu agora estava enamorado dela. A sua própria limitação de
vocabulário tornou-se uma atração; assim como a dureza da pedra agrada o
escultor, ou a dificuldade do soneto deleita o poeta.
Neste lado
(como autor) eu escrevi contos de fadas porque o Conto de Fadas pareceu ser a
Forma ideal para aquilo que eu tinha para dizer...
Todos os
meus sete livros de Nárnia, e os meus três livros de ficção científica, começaram
com imagens em minha cabeça. De início, elas não eram uma estória, apenas figuras.
O Leão todo começou com a figura de
um Fauno carregando um guarda-chuva, caminhando em uma floresta cheia de neve.
Esta imagens havia estado em minha mente desde que eu tinha dezesseis anos. Até
que um dia, quando eu estava com aproximadamente quarenta, eu disse a mim
mesmo: “Vamos tentar fazer uma estória com isso.”
De início, eu tinha muito pouca ideia de como
a estória prosseguiria. Mas então, de repente, Aslan veio saltando e a enlaçou.
Eu acho que eu estava tendo muitos sonhos sobre leões naquela época. Fora isso,
eu não sei de onde veio o Leão ou porque Ele veio. Mas da feita que Ele estava
lá, Ele amarrou toda a estória junta, e logo Ele puxou as outras seis estórias
de Nárnia após Ele.
Você vê,
então, que em certo sentido, eu sei muito pouco sobre como esta estória nasceu.
Isto é, eu não sei de onde vieram as imagens. E eu não creio que alguém saiba
exatamente como se “inventa coisas”. A Invenção é algo muito misterioso. Quando
você “tem uma ideia”, você poderia contar exatamente para alguém como que você
pensou nisso?
De Outros Mundos. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1966.
(In: Ryken, Leland, ed. The Christian Imagination. Colorado Springs: Showbrooks,
2002.)
Tradução: Anna Layse A. Davis.
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